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Seca extrema pode ter levado ao colapso da civilização maia

Vviktor / Pixabay

Templo de Kukulcán, localizado em Chichén Itzá – uma cidade arqueológica maia, no Iucatã

Um grupo de investigadores descobriu que os períodos de seca “extrema”, que chegaram mesmo a registar uma queda de 70% nas chuvas, foram um dos motivos que levou ao colapso da civilização maia.

Os Mais dominavam a arquitetura e a matemática, conheciam a astronomia e tinha um sistema de escrita tão eficiente como os que existiam à luz da época, na Europa. Esta civilização foi uma das mais proeminentes culturas pré-colombianas, deixando marcas que mostram o seu alto grau de desenvolvimento.

No entanto, quando os europeus chegaram ao continente americano, poucos vestígios restavam. O mistério sobre esta lendária civilização ganha agora mais uma explicação com este novo estudo, publicado esta quinta-feira na revista Science.

Cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Universidade da Flórida, nos EUA, desenvolveram um método para medir os diferentes isótopos de água presos na gipsita – um mineral que se forma em épocas de seca, quando o nível médio das águas cai – no lago Chichancanab, na Península de Iucatão, no México.

“Descobrimos que, na altura, a precipitação média anual diminuiu cerca de 41 a 54% em relação aos dias de hoje. Períodos com até 70% de redução da precipitação podem ter ocorrido em períodos de tempo mais curtos dentro das secas”, afirma o geoquímico Nicholas Evans, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, em declarações à BBC.

Segundo o investigador, a pesquisa demonstrou que a humidade relativa diminuiu cerca de 2 a 7% nesse período. “Os nossos resultados podem agora ser usados para prever melhor como é que estas condições de seca podem ter afetado a agricultura – incluindo os rendimentos das culturas básicas dos maia, como o milho.”

Evans aponta que este novo estudo representa um “avanço substancial”, já que oferece estimativas estatisticamente sólidas sobre os níveis de precipitação e humidade.

Declínio da civilização maia

A civilização maia divide-se em quatro períodos principais: o pós-clássico (2000 a.C a 250 a.C), o clássico (250 a.C a 800 d.C), o fim do clássico (800 d.C a 1000 d.C) e o pós-clássico (100 d.C a 1539 d.C).

O auge da civilização ocorreu entre os anos 250 e 800, durante o período clássico. Em 750, acreditam os historiadores, a população terá chegado aos 13 milhões de habitantes. A partir daí, deu-se um rápido e misterioso declínio.

Existem diversas teorias sobre o que levou ao colapso da civilização, desde de surtos de doenças a problemas decorrentes da dependência da monocultura, passando por guerras internas, invasões de povos estrangeiros e mudanças climáticas.

Contudo, nos últimos anos, a questão climática tem ganho força – sobretudo depois dos cientistas analisarem vestígios deixados no solo e no fundos dos lagos mexicanos.

“Outros estudos, realizados em toda a região das planícies maia, também fornecem pistas de sincronicidade da seca, registando apenas pequenas variações temporais na região. Não podemos afirmar se esta seca foi sentida em outras áreas do planeta”, ressalta Evans.

Essa hipótese já tinha sido apresentada pelo menos desde 1994, quando o arqueólogo Richardson Benedict Gill publicou o livro The Great Maya Droughts. Na obra, o cientista reitera que a escassez da água teria sido o principal fator no colapso do povo maia.

Outros estudos publicados posteriormente vão de encontro à hipótese que associa a seca ao fim da civilização.

“Existem várias teorias, mas os dados não sustentam qualquer causa em particular. Possíveis teorias incluem a desflorestação, mudanças na frequência dos ciclones tropicais, mudanças na frequência dos eventos El Niño e mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical”, explica Evans.

O investigador não acredita que um fenómeno semelhante à seca extrema que atingiu os maia possa acontecer no futuro – mesmo tendo em conta o aquecimento global e as alterações climáticas.

“Não há ligação direta entre a seca estudada e os futuros períodos de seca, já que a globalização significa que hoje em dia os seres humanos são capazes de movimentar os recursos hídricos e alimentares em todo o planeta – ao contrário dos maia, que dependiam das chuvas e viviam como uma sociedade agrícola local”, concluiu o investigador.

ZAP // BBC

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