As vagas de calor nos oceanos estão há um século a aumentar e a culpa é do aquecimento global. O impacto nos ecossistemas já está a ser notório.
Ao longo do século passado, as vagas de calor no mar aumentaram em número e em intensidade e a culpa foi do aquecimento global.
De acordo com o estudo publicado recentemente na Nature, entre 1926 e 2016 a frequência de vagas de calor da água do mar aumentou 34% e a duração de cada onda de calor aumentou 17%, traduzindo-se num aumento de 54% do número de dias de temperaturas acima do normal no mar em cada ano.
Este aumento de calor no mar tem um elevado impacto nos ecossistemas que já está a ser evidente.
Ao Diário de Notícias, Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicou que o aquecimento das águas pode ser uma ameaça para espécies como a sardinha ou o peixe pau, que gostam de águas mais frias.
“Registou-se um aumento da temperatura média dos oceanos na camada superficial, até 700 metros de profundidade, da ordem de 1 grau celsius. No caso de Portugal há espécies de peixes que gostam de águas quentes e que aparecem agora na nossa costa, como o peixe lua”, comentou o especialista.
Segundo o jornal, este aquecimento contínuo das águas do mar há um século está a fazer com que o Oceano Atlântico se assemelhe ao Mar Mediterrâneo com as suas águas cálidas.
Mas Duarte Santos sublinha que este aquecimento pode não ser necessariamente mau para a pesca. “Podem vir para a nossa costa espécies de peixes de águas mais quentes que até sejam economicamente mais rentáveis”, sublinha.
Além disso, o estudo descobriu ainda que desde 1982 houve um assinalável aumento da tendência de vagas de calor marinhas.
“Essas ondas de calor têm impactos significativos nos ecossistemas, biodiversidade, pesca, turismo e aquacultura. Há muitas consequências económicas profundas que andam de mão dada com esses eventos”, aponta Eric Oliver, da Universidade de Dalhousie, no Canadá, e principal autor do estudo.
O estudo foi feito por investigadores do Centro de Excelência para os Extremos Climatéricos, um consórcio que junta cinco universidades australianas e uma rede de organizações da Austrália e de outros países, e o Instituto de Estudos Marinhos e Antárticos, um centro de investigação da Universidade da Tasmânia, também na Austrália.
Os investigadores usaram dados fornecidos por satélite e outros recolhidos por navios e estações de medição terrestre.
ZAP // Lusa