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Falhas de segurança deram origem ao incêndio em Tondela

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Nuno André Ferreira / Lusa

Militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) junto ao edificio da associação de Vila Nova da Rainha, em Tondela

O incêndio na Associação Recreativa, Cultural e Humanitária de Vila Nova da Rainha, em Tondela, que deflagrou no sábado à noite, provocou pelo menos oito mortos e 40 feridos. Na origem da tragédia terão estado falhas de segurança.

O incêndio iniciou-se numa salamandra de aquecimento a lenha. Estes aparelhos são muitos usados em detrimento das lareiras, por serem eficazes no aquecimento de espaços, mas terem associada uma instalação mais barata.

Segundo o Correio da Manhã, o tubo que transporta o fumo do equipamento para o exterior terá sobreaquecido, incendiando o teto falso do primeiro piso da associação, composto por esferovite, um material altamente inflamável.

Ricardo Rodrigues, que há mais de dez anos trabalha na instalação e manutenção de salamandras, lembra que, a norma, é as pessoas se “desleixarem com a manutenção“: “Esse é que é o grande problema. Um tubo está a uma temperatura normal de 200 graus. Se estiver sujo e começar a arder pode atingir os 800. É natural que provoque ignições e ainda mais provável quando está junto a materiais inflamáveis”.

Jorge Coimbra, presidente da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, admitiu ainda que não havia extintores instalados no local. O Presidente admite que nunca pensou no assunto, apesar de os extintores serem obrigatórios em espaços públicos, avança o Jornal de Notícias.

A juntar-se a estes problemas, esteve uma porta de abrir para dentro. Quando o incêndio deflagrou, as pessoas que estavam dentro da Associação tentaram fugir, mas foram impedidas por uma porta que abria ao contrário.

O testemunho é dado por uma das participantes do torneio de sueca que se realizava no espaço. Lara tem 15 anos e sobreviveu porque “passou por cima das pessoas” que ficaram encurraladas junto à porta.

A jovem tinha ficado presa no andar de cima da associação recreativa, conta o Observador, junto com uma dezena de pessoas.

Ao tentar escapar, Lara deparou-se com um cenário fatídico. As pessoas que tentavam descer as escadas caíram literalmente umas por cima das outras e, às pessoas, seguiu-se o corrimão que, com o peso dos que fugiam, acabou por ceder.

Nuno André Ferreira / Lusa

Incêndio em Tondela fez 8 mortos

No fundo das escadas havia duas portas: uma dava para um salão de jogos e a outra dava para a rua, mas esta abria para dentro, ao contrário do que é recomendado.

Apesar dos ferimentos muito graves “na cara e nas mãos”, Lara passou por cima do amontoado de corpos e dirigiu-se à porta que dava para o salão de jogos, que teria depois acesso para a rua. Foi a sua salvação. Ao chegar à rua, no entanto, os graves ferimentos fizeram com que fosse, de imediato, transportada de helicóptero, “consciente”, para o hospital da Estefânia em Lisboa.

Entre o amontoado de corpos estava Odete Gonçalves, que tinha ido para participar no torneio com a amiga Máxima. Esta última não sobreviveu.

Odete conseguiu escapar ao incêndio, mas o pânico não a abandonou. “As primeiras pessoas caíram e acabaram junto da porta”, explica a participante do torneio que se safou porque teve de voltar atrás para ir buscar o casaco, ou teria, também ela, sido mais um corpo a cair.

As luzes apagaram-se e foi o pânico. Quando tentei sair fiquei presa nos corpos”, conta Odete. Do lado de fora, Odete ouvia quem tentava ajudar. O filho gritava para que saísse. “Tinha as pernas presas. Eles ainda tiraram algumas pessoas pela janela, mas eu não conseguia” recorda Odete, salva quando a porta foi arrancada. “foi um terror. Pensei que ia morrer”. Odete foi uma das 38 pessoas feridas, mas já teve alta ontem de manhã. “Estamos todos em choque. Perdemos amigos e vivemos um inferno”.

António Costa preparava-se para entrar na associação quando começou a ouvir os gritos. “Ouvíamos os gritos mas não conseguíamos abrir a porta, os corpos não permitiam”. Seguiram-se minutos a tentar tudo para arrancar a porta. Temiam que fosse tarde demais. “Com um jipe conseguimos. Mas as pessoas estavam amontoadas. Às dezenas. As de baixo devem ter morrido asfixiadas”.

“Tirei mais de 40 pessoas. Havia queimados, muitos intoxicados, vários em choque. Estavam em pânico, eles e nós que não sabíamos o que fazer”, relata António Costa. “Como foi possível? Como é que, a fugir das chamas, as pessoas se atropelam umas às outras”, morrendo na armadilha da porta para a rua que “abria para dentro”. Perguntas das irmãs de Máxima, replicadas por centenas de pessoas no local.

Jorge Mendes, da Associação de Comandos dos Bombeiros, afirma que “o local não tinha condições de segurança”. Além da porta, no local faltava ainda o sistema de desenfumagem, a iluminação de emergência e tinha, por outro lado, bilhas de gás no interior. “Não há quem faça a fiscalização destes espaços. Estava prevista uma equipa de inspetores que nunca avançou”.

Mesmo depois das obras que o edifício sofreu há dez anos, os bombeiros nunca vistoriaram o edifício, conta o Público.

Câmara de Tondela decreta três dias de luto pelas vítimas de incêndio

“A tragédia ocorrida nesta associação deixou o concelho de Tondela mergulhado num novo sentimento de dor e consternação“, refere a autarquia, numa alusão também aos incêndios florestais de há três meses, que percorreram quase 180 quilómetros quadrados do concelho, provocando três vítimas mortais (duas diretas e uma indireta) e muita destruição.

A autarquia aproveita para agradecer “a grande disponibilização de meios operacionais de todas as corporações de bombeiros, INEM, GNR e Proteção Civil, bem como toda a solidariedade manifestada por autarcas, Governo e Presidente da República”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que visitaram o local, expressaram solidariedade aos familiares das vítimas.

ZAP //

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7 Comments

  1. Infelizmente mais um caso de desleixo na segurança, agora condolências vítimas e 3 dias de luto para a Câmara de Tondela. Ainda o ano começou e já os extraterrestres andam a incendiar o país e os portugueses com a sua inoperância antes delas acontecerem.

  2. E facil , e seguir as tendências que tem reinado em Portugal os últimos tempos .
    É culpar o governo pelo acontecido , pois agora funciona tudo assim quando acontece uma tragédia nesse país .
    A floresta arde culpa o governo (não os proprietários que deixam as florestas ao abandono e sem limpeza ) ,acidentes de viação culpa o governo (não os condutores que não respeitam as regras , cai um predio no centro de uma cidade , culpa o governo (não o proprietário que não zelou por aquilo que é seu ) no fim por uma simples razão , o estado pode pagar indemnizações avultadas ao familiares em dor ,pois o dinheiro agora cura qualquer dor em portugal .
    Apontar verdadeiros responsaveis e fazer pagar pelo acontecido e que não importa, pois o dinheiro fala mais alto…

  3. Culpado : O Governo
    Solução: Demissão do ministro e pedido de desculpa pelo Governo
    Acções : Visita do Presidente, com beijocas e abraços à população
    Procedimentos:
    1. Publicar elogios e agradecimentos aos Bombeiros
    2. Reconstruir o Club e indemnizar as familias
    3. Assistir as familias com apoio psicológico
    4. Agradecer as soluções à Sra Cristas e ao Sr Coelho
    5. Deixar passar o tempo, esquecer o assunto e que venha outra,… a ver se a imprensa muda o fadinho

  4. O que me parece ser uma grande falha é colocar-se um tubo de chaminé junto a um tecto de matéria inflamável sem uma determinada área de protecção depois a precipitação das pessoas fez o resto.

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