A exposição “Os trabalhadores forçados portugueses no III Reich” que vai ser inaugurada na sexta-feira no CCB em Lisboa mostra aspetos inéditos sobre portugueses que foram vítimas diretas do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.
“O mais interessante da exposição são as pessoas. São as imagens das pessoas porque são vítimas esquecidas”, disse a historiadora Cláudia Ninhos que faz parte da equipa internacional, que mais de setenta anos após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), revela pela primeira vez a existência de vítimas portuguesas, sobretudo, do sistema de trabalho forçado do III Reich e prisioneiros de guerra.
A exposição é composta por fotografias, objetos pessoais mostrando os percursos individuais dos portugueses através de documentação de arquivos franceses, mas principalmente do International Tracing Service da Alemanha, uma organização que foi criada depois de 1945 para localizar pessoas que se encontravam deslocalizadas.
“Há pessoas nos campos de concentração, há prisioneiros nos campos de prisioneiros de guerra e depois há uma massa de trabalhadores na Alemanha. Cerca de seiscentas pessoas, mas nós acreditamos que esta é a ‘ponta do iceberg’“, explica a investigadora.
A maior parte dos seiscentos portugueses (trabalhadores forçados) que foram identificados pelos historiadores estavam em França para onde tinham emigrado, apesar de existirem também casos políticos.
“O que nós quisemos perceber foi a forma como os portugueses são apanhados nesta teia porque durante a Segunda Guerra Mundial o trabalho forçado é uma questão omnipresente. Calcula-se que mais de vinte milhões de pessoas tenham sido escravizadas, no total, pelo regime nazi: homens, mulheres ou crianças”, refere Cláudia Ninhos.
Alguns portugueses vão para Alemanha como voluntários porque há uma vaga de desemprego e acabam por ser atraídos pela propaganda nacional-socialista: melhores salários, melhores condições de trabalho, possibilidade de envio de parte do salário para as famílias.
“O problema é que há medida a que a guerra avança e que a vitória nazi é cada vez mais longínqua torna-se mais difícil regressar. Há outro problema: os alemães permitem que eles entrem sem passaporte – a legação e o consulado de Portugal em Berlim evitam dar passaportes a estes portugueses porque não há um acordo de trabalho entre Portugal e a Alemanha. Os alemães deixam-nos entrar, mas depois não os deixam sair porque não têm documentação”, explica a historiadora.
Os casos políticos referem a existência de portugueses envolvidos em atividades como membros da Resistência francesa, alguns que já vêm da Guerra Civil de Espanha (1936-1939) sendo que muitos já estavam em campos de internamento franceses, refugiados do conflito espanhol, e que são transferidos quando o exército nazi ocupa a França.
“Queremos continuar a investigar. Há muita documentação. Queremos aprofundar a questão específica dos prisioneiros de guerra portugueses. Identificamos 206, mas queremos continuar”, diz a historiadora.
A exposição, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, está integrada na investigação realizada, desde 2003, por uma equipa internacional do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sob a direção do historiador Fernando Rosas.
Em virtude da investigação, o Estado português através do ministro dos Negócios Estrangeiros, descerrou, no passado mês de maio, no antigo campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, uma placa em homenagem aos portugueses que foram vítimas da perseguição nazi.
// Lusa