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Língua azul está a matar dezenas de ovelhas em Santarém

Daniil Nenashev / World Bank

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Mais de 70 ovelhas morreram esta semana em Abrantes, distrito de Santarém, com o vírus da língua azul, tendo o veterinário local afirmado que a situação é de “calamidade” para os produtores da região.

“De um total de 15 mil ovelhas existentes em 400 explorações e rebanhos nos concelhos de Abrantes, Constância e Sardoal, mais de 50% está infetado com o vírus da língua azul, uma situação de calamidade para estes produtores. Só em Alvega [Abrantes] um produtor já perdeu 70 cabeças”, disse Adérito Galvão, veterinário do Agrupamento de Defesa Sanitário (ADS) daqueles três municípios.

O veterinário criticou que “as vacinas foram apenas cedidas às zonas de restrição do vírus, entre elas o Alentejo, mas o vírus propagou-se pelos mosquitos e entrou no Ribatejo no início de novembro, tendo apanhado todas as ovelhas por vacinar, uma vez que esta região não foi considerada zona de risco”.

“Hoje, depois de ter mais de metade de um efetivo de 15 mil ovelhas contaminado, e muitas delas prenhas, é que comecei a vacinar o gado, porque libertaram na quarta-feira 30 mil vacinas, mas já com a doença no terreno“, disse esta quinta-feira o responsável, tendo feito notar que, para cada ovelha, é necessária a administração de duas vacinas, espaçadas no tempo.

Adérito Galvão, que começou ontem com a sua equipa a vacinar 15 mil ovelhas, lembrou que as vacinas são administradas em duas doses, com três semanas de intervalo. “Só ao fim de um mês se estabelecem as resistências e durante este período ainda podem vir a adoecer”, frisou, tendo observado que “as baixas temperaturas podem ajudar à não propagação do vírus, uma vez que os mosquitos não voam, como tal, deixam de se reproduzir e deixam de picar”.

O veterinário explica que a doença não se transmite aos humanos.

O produtor Artur Lopes, de Alvega, disse que “as ovelhas estão prenhas, mas não se alimentam com o vírus. Ganham febre, babam-se e deixam de comer. Todos os dias morrem ovelhas dos meus rebanhos”, lamentou, tendo contabilizado 70 ovelhas mortas, com um valor médio de mercado de 80 euros.

O Bloco de Esquerda, através dos deputados Carlos Matias e Pedro Soares, solicitou ontem ao Governo que adote medidas de apoio aos criadores cujos animais foram atingidos pela febre catarral ovina (vírus da língua azul) no Médio Tejo.

“As consequências do vírus são agravadas pelo facto de as fêmeas se encontrarem numa fase crítica do ciclo reprodutivo, mais vulneráveis, agravando as taxas de mortalidade do efetivo de ovinos, pode ler-se, tendo o BE lembrado que, “às despesas com medicamentos e deslocações, somam-se as horas perdidas tentando recuperar animais e a frustração por perder crias, precisamente na época pré-natalícia, em que a sua venda seria potencialmente mais rentável”.

Segundo os deputados, “acresce a este quadro a generalizada incompreensão pela demasiado tardia emissão do edital da DGAV, em 18 de novembro último, só então alargando a área de vacinação obrigatória aos concelhos atingidos no Médio Tejo, já depois de confirmados os primeiros resultados positivos das análises para deteção viral”.

Ministério desmentido

O Ministério da Agricultura disse que “todas as explorações de ovinos situadas dentro da zona de restrição [todas as regiões do Alentejo e Algarve e também três concelhos de Castelo Branco] acederam a vacinas fornecidas pela DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária”, tendo feito notar que as restantes explorações “podiam vacinar voluntariamente, sendo o custo da vacina suportado pelos produtores”.

Na mesma informação pode ler-se que “a DGAV (…) em novembro publicou o edital n.º 42, que estendeu a zona de restrição a outros concelhos de Lisboa e Vale do Tejo e a mais alguns da Beira Interior, incluindo também o concelho de Abrantes” e que as medidas “entraram em vigor à data da publicação dos editais”.

Questionado sobre se prevê que os produtores possam ser ressarcidos pelos prejuízos, o Ministério refere que, “estando em vigor medidas de controlo muito específicas, de aplicação obrigatória, e que são consideradas suficientes para evitar a ocorrência da doença, à partida foram prejudicados os produtores que não as aplicaram, desrespeitando os editais da DGAV”.

Nesse sentido, conclui que “não poderá haver lugar a quaisquer indemnizações”, referindo que “a DGAV, enquanto Autoridade Sanitária, tomou as medidas adequadas e informou os produtores”.

No entanto, à Renascença, Adérito Galvão explica que o Ministério da Agricultura, ao contrário que tem sido noticiado, só previu a vacinação de vacas e não de ovelhas.

“Ao contrário das notícias que estão a ver veiculadas pelo Ministério da Agricultura, não estava prevista a vacinação voluntária das ovelhas pelos produtores, apenas a das vacas. Portanto, essa informação que está a ser veiculada pelo Ministério da Agricultura, não é correcta. Eu aconselhei algumas pessoas, que seria do ponto de vista preventivo, bom, vacinar as ovelhas. E foi-me dito e estava escrito nos editais que previam a vacinação voluntária das vacas e não das ovelhas”, disse.

ZAP / Lusa

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