A Presidente da Coreia do Sul afirmou esta sexta-feira que aceitará ser investigada no âmbito do caso suspeito de corrupção e tráfico de influências ligado à alegada ingerência de uma amiga sua em assuntos de Estado.
“Se necessário, estou disposta a responder sinceramente às investigações dos procuradores”, disse Park Geun-hye num discurso à nação, transmitido pelas principais televisões do país, depois de dez dias de silêncio sobre o maior escândalo político dos últimos anos na Coreia do Sul.
“Estes últimos acontecimentos são todos culpa minha, foram causados pela minha imprudência“, declarou, explicando que “baixou a guarda” relativamente à sua amiga de longa data Choi Soon-sil, acusada de se ter aproveitado da relação pessoal com a Presidente para aceder a documentos confidenciais e intervir em assuntos de Estado, incluindo na nomeação de membros do Governo ou na revisão de discursos.
A chefe de Estado voltou a pedir “as suas mais sinceras desculpas” aos sul-coreanos, afirmando sentir-se “devastada”.
A Presidente sul-coreana fez, nos últimos dias, uma remodelação governamental, substituindo nomeadamente o primeiro-ministro, na tentativa de responder à onda de críticas que se gerou no país devido ao caso conhecido como “Choi Soon-sil Gate”.
A amiga íntima da Presidente, de 60 anos, está a ser investigada por alegadamente se ter apropriado de fundos públicos e exercido influência na política do país, apesar de não desempenhar qualquer cargo público.
Na segunda-feira foi detida preventivamente até que, na quinta-feira, um tribunal de Seul aprovou formalmente um mandado de prisão contra a amiga de longa de data de Park, sob a acusação de prática dos crimes de fraude e de abuso de poder.
Este caso desencadeou a maior crise política que a Presidente Park enfrentou desde que assumiu o poder em 2013.
Milhares de pessoas – 100 mil segundo a organização e quatro mil de acordo com a polícia – manifestaram-se no passado sábado no centro da capital sul-coreana, Seul, para pedir a demissão da Presidente, cujos índices de popularidade atingiram níveis mínimos, por acreditar que Park delegou numa pessoa desconhecida importantes decisões sobre políticas de Estado.
O novo anúncio chega dez dias depois de Park ter pedido perdão publicamente pela primeira vez, depois de se ter descoberto que Choi Soon-sil editara vários dos seus discursos com dias de antecedência, um ato ilícito uma vez tratando-se de informação confidencial.
A indignação dos sul-coreanos, incluindo de membros do seu partido, tem por base a ideia de que a Presidente foi manietada durante o seu mandato por Choi, a qual foi comparada pelos meios de comunicação social à figura de Rasputin.
Choi Soon-sil é filha de Choi Tae-min, que se casou seis vezes, tinha múltiplos pseudónimos e montou a seita religiosa “Igreja da Vida Eterna”.
Morreu em 1994 e era ex-mulher de Chung Yun-hoi, que trabalhou como assessor de Park quando esta era deputada, até à sua vitória nas eleições presidenciais em 2012.
/Lusa
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