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Ainda se constroem casas em sítios “indevidos” nos Açores

Zé Pinho / Flickr

Furnas do Enxofre, Açores

Furnas do Enxofre, Açores

O vulcanólogo Victor Hugo Forjaz alertou esta terça-feira para os riscos das construções em sítios “indevidos” nos Açores, salientando que as pessoas têm “memória curta”, apesar dos ensinamentos que foram retirados dos últimos sismos.

“Com o sismo de 80 passou-se a construir melhor, mas é preciso não esquecer o passado”, frisou, em declarações à Lusa, a propósito do lançamento do livro “Terramoto de 1980 – Memória e Sentimentos”, na quarta-feira.

O livro, de que Victor Hugo Forjaz é um dos autores, surgiu precisamente para avivar a memória dos açorianos, que, segundo o vulcanólogo, se esquecem de que a região não está imune a sismos.

“Eu e uns amigos reparámos que o sismo estava a ficar esquecido”, adiantou, salientando que o terramoto de 1980 foi “histórico” para a geologia nos Açores.

O livro tem uma “intenção pedagógica”, mas junta aos ensinamentos científicos textos sentimentais, segundo Victor Hugo Forjaz.

O sismo, com magnitude de 7,2 na escala de Richter, registou-se na tarde do dia 01 de janeiro de 1980, com epicentro a 35 quilómetros a sudoeste de Angra do Heroísmo. As ilhas Terceira e São Jorge foram as mais afetadas, tendo-se contabilizado 61 mortos.

Segundo Victor Hugo Forjaz, este foi o acontecimento geológico com “maior violência” nos Açores a seguir ao sismo de 1757, em São Jorge.

Na altura, o vulcanólogo já era diretor de um projeto geotérmico na ilha de São Miguel, mas foi o sismo de 1980 que levou à criação do Serviço Regional de Proteção Civil dos Açores e da rede de vigilância sismovulcânica da região.

Victor Hugo Forjaz realçou que o terramoto trouxe muitos conhecimentos, tanto ao nível científico, como para a construção de edifícios, apesar de ainda se encontrarem atualmente casas construídas junto à costa e perto de ribeiras.

O vulcanólogo aprendeu, por exemplo, que existe um “efeito de sítio” que faz com que as ondas sísmicas sejam mais aceleradas em determinados locais.

Quando fez o percurso do aeroporto a Angra do Heroísmo, na altura, encontrou uma vila longe do epicentro muito destruída, o que o levou a pensar que a cidade estivesse em pior estado, mas veio depois a descobrir que a justificação estava no “efeito de sítio”.

O livro “Terramoto de 1980 – Memória e Sentimentos” é lançado às 15:30 (hora local), na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo.

A cerimónia será precedida pelo toque dos sinos em todas as igrejas da ilha Terceira, em memória das 61 vítimas mortais.

/Lusa

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