80 mortes no Japão associadas a suplemento com arroz vermelho

JIJI PRESS / EPA

O presidente Akihiro Kobayashi e executivos da Kobayashi Pharmaceutical pedem desculpa durante conferência de imprensa, em março, em Osaka, Japão

As autoridades japonesas estão a investigar 80 mortes que podem estar ligadas a um suplemento alimentar para baixar o colesterol fabricado pela Kobayashi Pharmaceutical, que foi recolhido em março.

Em março, a Kobayashi Pharmaceutical já tinha confirmado a morte de cinco pessoas causadas pelo consumo do produto CholesteHelp (vendido no Japão e na China).

Agora, as autoridades estão a investigar mais de 70 novas mortes, que terão sido causados por produtos que contêm levedura vermelha de arroz (“beni-koji” em japonês), uma variedade de levedura de arroz que adquire uma cor avermelhada quando fermentada.

O Ministério da Saúde japonês disse ter recebido cerca de 170 relatórios de familiares de pessoas alegadamente afetadas pelos comprimidos vendidos como suplemento para baixar o colesterol.

Segundo o The New York Times, os médicos identificaram 80 casos de mortes que podem ter sido causadas pelo consumo do produto.

A Kobayashi Pharmaceutical recebeu relatos de que 1.656 pessoas procuraram aconselhamento médico por problemas de saúde relacionados com o CholesteHelp e 289 pessoas foram hospitalizadas.

Bolor azul no arroz vermelho

A “beni-koji” é utilizada há séculos na Ásia Oriental na alimentação, nas bebidas alcoólicas e na medicina tradicional chinesa pelas suas propriedades digestivas e estimulantes da circulação.

A levedura de arroz vermelho é um alimento que tem um ingrediente ativo potencialmente eficaz na redução dos níveis de colesterol (monacolina K), mas que também pode conter um tipo de toxina que causa insuficiência renal

A investigação governamental determinou que as lesões renais foram causadas pela contaminação por ácido puberúlico, um agente antibacteriano e antimalárico que pode ser produzido a partir do bolor azul e que pode ser tóxico.

As autoridades suspeitam que possa ter entrado no produto durante o cultivo, depois de os inspetores sanitários terem encontrado bolor azul em câmaras de cultivo e tanques em duas das fábricas da empresa farmacêutica.

Cenário podia ter sido evitado?

Esta sexta-feira, o ministro da Saúde, Keizo Takemi, citado pela agência EFE, considerou como “extremamente lamentável” que a empresa de Osaka, no oeste do Japão, não tenha comunicado mais rapidamente os relatórios das pessoas afetadas e os resultados das investigações médicas.

Em comunicado, a Kobayashi Pharmaceutical admitiu que, nalguns casos, o consumo dos produtos em questão teve indiretamente repercussões nefastas no estado de saúde de certas pessoas.

Os produtos criaram muitas vezes situações de comorbilidade, agravando o estado de saúde de pessoas que já sofriam de outras doenças.

A ligação entre os produtos e os problemas de saúde foi estabelecida por médicos que começaram a comunicar à Kobayashi, em janeiro, os primeiros casos de disfunção renal, fadiga e outras patologias em doentes que tinham tomado os suplementos.

Em março, a Kobayashi Pharmaceutical recolheu voluntariamente cinco produtos, incluindo 300 mil embalagens de comprimidos vendidos como suplemento para baixar o colesterol.

Até fevereiro, a empresa tinha vendido 1,06 milhões de embalagens, desde que o produto foi lançado em 2021.

Além dos produtos que comercializa diretamente, a Kobayashi distribuiu arroz com levedura vermelha a 52 outras empresas nacionais e estrangeiras, às quais foi igualmente solicitado que retirassem os produtos.

A Kobayashi Pharmaceutical foi fundada em 1919. Como refere o The New York Times, embora não seja uma das principais empresas farmacêuticas do Japão, produz uma variedade de suplementos e produtos de saúde, como aquecedores de mãos e ambientadores.

ZAP // Lusa

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