Mistério em Chernobyl: houve mesmo aumento dos níveis de radiação?

No início da invasão à Ucrânia, as tropas russas tomaram o controlo da central nuclear de Chernobyl. Em fevereiro de 2022, os sensores reportaram aumentos súbitos nos níveis de radiação. Agora, os especialistas acreditam que pode ter sido apenas uma “jogada de manipulação de dados”.

Mistério em Chernobyl: a 24 de fevereiro de 2022, as tropas russas tomaram o controlo das instalações da central nuclear.

Até hoje, as informações são contraditórias e as evidências inconclusivas.

Após a tomada do controlo, sete estações de monitorização relataram níveis de radiação elevados, com leituras até oito vezes superiores ao normal.

Os níveis de radiação em Chernobyl sofreram picos significativos logo nos dias 24 e 25 de fevereiro de 2022, com um dos sensores a registar um aumento quase 600 vezes a sua leitura normal.

O State Specialized Enterprise Ecocenter, que monitorizava e publicava os dados da central nuclear, parou de atualizar os números, depois desses picos.

Ciberataque?

Inicialmente, acreditou-se que a causa para o aumento súbito dos níveis de radiação tivesse sido a ressuspensão do solo radioativo – em que substâncias sólidas radioativas terão ficado dispersas no ar – devido ao movimento de veículos militares russos.

Só que um grupo de especialistas em radiação ambiental contestou essa teoria. De acordo com o artigo, publicado em junho no Journal of Environmental Radioactivity, não há evidências de que a ressuspensão do solo tivesse causado os picos.

Mike Wood, um dos dos autores do estudo que examinou os picos de radiação na Zona de Exclusão de Chernobyl (CEZ), recusou que o fenómeno tivesse sido causado pela ressuspensão do solo.

O especialista argumentou que não havia radiação suficiente no solo, e destacou padrões inconsistentes, nos picos de radiação. Além disso, a rapidez com que os sensores voltaram ao normal também contrariou a teoria.

Foi, então, sugerido que a causa real poderia ter sido manipulação de dados: ou seja, um ciberataque.

Contrariamente, Anton Gerashchenko, conselheiro oficial e ex-vice-ministro do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia, justificou o aparato com danos num depósito de resíduos radioativos.

De acordo com a Wired, o SNRIU (Reguladora Nuclear Estatal da Ucrânia) continua a afirmar que o aumento súbito dos níveis de radiação foi devido às movimentações do solo da equipa militar.

A incerteza sobre a veracidade e a causa dos picos permanece, até hoje, e tanto a International Atomic Energy Agency (AEIA) como o Conselho de Segurança Nacional dos EUA evitaram responder a perguntas detalhadas.

Evidências inconclusivas

Foi investigada a possibilidade de manipulação de dados em sensores de radiação na CEZ, e foram identificados 42 sensores que relataram níveis de radiação em quatro padrões diferentes.

Os padrões radioativos sugerem que o código foi escrito para injetar dados falsos na base de dados do Ecocenter.

A SNRIU recusou-se a responder às perguntas detalhadas sobre os padrões verificados e afirmou que não tinha informações suficientes sobre a situação, já que os eventos ocorreram durante o controlo das forças russas.

Foram exploradas possíveis manipulações de radiação em Chernobyl, havendo suspeitas tanto relação à Rússia como à Ucrânia.

Os russos são suspeitos de terem ameaçado um evento nuclear, para dominar o conflito com a Ucrânia e hackear organizações nucleares ucranianas. Há quem diga que Rússia pode ter usado picos de radiação como evidência de atividade nuclear ilícita ucraniana.

Por outro lado, os ucranianos poderiam ter usado os tais picos de radiação para se queixarem de uma ameaça nuclear à União Europeia.

A situação é complexa. O estudo em cima mencionado refere possíveis ações enganosas de trabalhadores de Chernobyl, durante a ocupação russa.

A complexidade geopolítica da central pode ter desencorajado a investigação. Contudo, é fundamental apurar a verdade e entender se o aumento súbito dos níveis de radiação, naqueles dias de fevereiro 2022, foi um acidente real ou manipulação deliberada.

Miguel Esteves, ZAP //

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