Queriam 50 vozes femininas diversas – e não conseguiram. Vem aí manifestação

MDM - Movimento Democrático de Mulheres / Facebook

Manifestam-se porque as mulheres portuguesas correm o risco de perder direitos. Projecto “50 vozes” não chegou onde queria.

“Continua a haver fortes indicadores de desigualdade e de desvantagem para realizadoras”.

Faltam muitas coisas para haver igualdade. As mulheres entram mais tarde na carreira, ganham menos, demoram mais tempo a progredir, há muito poucas mulheres em lugares de topo nas equipas de produção, as mulheres são muitas vezes infantilizadas e mantidas à margem dos círculos de decisão, as mulheres estão mais sujeitas à precariedade, quando alguém deixa o trabalho para cuidar de um filho é a mulher que abandona a carreira”.

As palavras foram ditas na RTP por Mariana Liz, da direcção da MUTIM (Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento), a propósito da iniciativa ‘Elas Fazem Filmes – Mostra de Cinema feito por mulheres em Portugal’, que anda a espalhar pelo país filmes de mulheres.

As palavras foram ditas sobre o cinema. Mas podiam ser sobre muitos outros sectores da sociedade.

Há poucos dias partilhámos o que se passa na literatura: há muitos mais homens a escrever, a publicar. “Mas não te sei dizer porquê! Não é a qualidade. É um pouco mais complexo”, dizia na altura Analita Alves dos Santos.

A escritora e formadora acrescentava que as oportunidades de acesso não são iguais para as mulheres: “Só por sermos mulheres. Precisamos de trabalhar muito mais, de nos esforçarmos muito mais”.

50… Não, 35

Foi com muito esforço que Daniela, Katerina e Maria Luísa tentaram encontrar 50 vozes femininas com influência, e diversas. Mulheres com “autoridade” e que não vivessem em Lisboa ou Porto, ou arredores.

O projecto chama-se mesmo “50 vozes” e queria encontrar, dar a conhecer, mulheres que o país não conhece. “Projectos incríveis, mulheres que tenham deixado impacto nas respectivas áreas de interesse de trabalho”, explica a organização, que queria deixar de ver sempre as mesmas caras em debates, conferências, notícias, etc.. (e sim, mais homens)

A pesquisa terminou há poucas semanas, em Dezembro. E com 35 nomes. Não conseguiram chegar sequer às 50.

Porquê? Por várias razões, explicaram na Renascença.

“Dentro da representatividade das mulheres, é muito difícil encontrar diversidade étnica, de condições socio-económicas, de experiência profissional e áreas diferentes das que costumam ocupar o espaço mediático”, começa por dizer Daniela Cunha.

Depois, há “alguma vergonha”. As mulheres pensam que não têm nada a acrescentar, apesar do seu percurso acima da média. É a síndrome do impostor: pessoas que se sentem pouco qualificadas, pouco capazes, acham que não merecem o que fazem. E afecta mais mulheres do que homens.

Mónica Canário, da Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI), acha que é também uma questão de educação para a liderança: “Nós não somos educadas nesse sentido”. Falta “mudar mentalidades”.

Depois, há os as “narrativas populistas que vão no sentido contrário da promoção da diversidade, da equidade, da inclusão, da igualdade de género” – e que acabam por entrar, por se enraizar, nas empresas.

Mónica Canário acrescentou que Portugal está a atravessar “um recuo” na representação de mulheres em posições de poder, de gestão e de administração pública.

Manifestação

Por causa disso (e não só), a Plataforma Feminista e a Rede 8 de Março convocaram nesta segunda-feira uma manifestação para o Dia Internacional da Mulher.

As duas associações deverão concordar e reforçar tudo que está escrito neste artigo.

As mulheres estão “em risco” de perder os seus direitos, começa por avisar Dejanira Vidal, da Plataforma Feminista.

Em entrevista à TSF, a activista resume: “Continuamos a lutar pelos direitos sexuais e reprodutivos, por maternidades abertas com profissionais e condições, pelo fim da esterilização forçada das mulheres com deficiências. Exigimos o salário igual: a disparidade salarial em Portugal aumentou, como temos visto pelas últimas estatísticas. E a violência doméstica tem sido um dos crimes mais denunciados e o crime que mais mata em Portugal”.

Dejanira Vidal acredita que vivemos sob uma “Justiça machista” e avisa: “O Estado tem vindo a falhar a todas as mulheres. Precisamos de respostas verdadeiras e efectivas”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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