Em menos de 24 horas, morreram duas mulheres. Já são 29, no total. No ano passado, foram noticiadas as mortes de 28 mulheres que morreram em contexto de violência doméstica, e o Governo registou 39 destes homicídios.
Uma mulher de 30 anos foi encontrada morta numa mala de viagem na quarta-feira. O seu companheiro, suspeito do crime, foi detido. Uma mulher de 92 anos foi morta na manhã desta quinta-feira, com dois tiros disparados por um homem de 89 anos. A confirmar-se de que se trata de homicídios em contexto de violência doméstica, sobe para 29 o número de vítimas mortais só este ano.
De acordo com o jornal Público, que contactou a Procuradoria-Geral da República, há pelo menos 23 vítimas do sexo feminino (incluindo uma criança) e seis vítimas do sexo masculino “com indícios seguros de morte ocorrida em violência doméstica”.
“Existem outros casos, designadamente com vítimas mulheres, que ainda não é possível assegurar com a necessária segurança que as mortes ocorreram em contexto de violência doméstica, aguarda-se que as investigações esclareçam os exatos contornos”, acrescenta a PGR.
No primeiro caso, a investigação apurou que o homem foi “possivelmente motivado por questões de natureza passional” e, na manhã de quarta-feira, “atingiu a vítima com um golpe letal de arma branca, desferido num quarto que ambos haviam arrendado”. O cadáver da vítima acabaria por ser encontrado de tarde, junto à urbanização Fonte do Ouro, na vila de Arruda dos Vinhos, dentro de uma mala de viagem. Tinha várias faixas de fita adesiva, o que despertou a atenção dos moradores, que alertaram as autoridades.
Segundo o presidente da câmara de Arruda dos Vinhos, André Santos Rijo, tratava-se de “um casal jovem de cidadãos brasileiros recém-chegados, que morava em Arruda há cerca de 15 dias”, disse numa publicação feita no Facebook. “Ela era trabalhadora da restauração, ele trabalhador da construção civil e os vizinhos ainda não tinham notado sinal de violência ou agressividade entre ambos”, escreveu.
O suspeito foi detido pela Polícia Judiciária, “escondido num espaço com vegetação densa nas proximidades” e será presente a primeiro interrogatório judicial.
O segundo caso aconteceu em Paços de Ferreira, quando um homem de 89 anos atingiu a companheira de 92 anos com dois tiros na cabeça, às 7h20 de quinta-feira, na residência do casal. O suspeito encontra-se detido.
A 18 de setembro, Gabriela Monteiro foi degolada em Braga pelo marido, de quem estava separada. O homem acabou por entregar-se numa esquadra da Polícia de Segurança Pública, dizendo que tinha ferido “a companheira com uma arma branca”. A vítima trabalhava no Theatro Circo, onde se fez então uma vigília em sua homenagem e em homenagem a todas as vítimas de violência doméstica. Gabriela tinha dois filhos de uma relação anterior e o suspeito de homicídio também tem um filho de uma relação anterior.
O número de queixas apresentadas nos postos da GNR e nas esquadras da PSP continua elevado. Segundo o Relatório Anual de Monitorização de 2018, as forças de segurança registaram nesse ano 26.432 participações de violência doméstica. Lisboa (5981), Porto (4614), Setúbal (2458), Aveiro (1804) e Braga (1801) foram os distritos com mais queixas.
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2018 dava conta de que tinha havido nesse ano um total de 110 homicídios voluntários, 39 deles em contexto de violência doméstica, o mesmo que é relatado no relatório anual de 2018 da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) relativo a homicídios consumados. Nos 110 homicídios, 61% das vítimas eram mulheres.