Gabriela Monteiro, de 46 anos, foi morta pelo seu ex-marido, junto ao Tribunal de Braga. O Theatro Circo, onde trabalhava há uma década, convocou uma vigília por ela.
O homem esfaqueou a mulher no peito e pescoço com uma navalha e, depois, entregou-se numa esquadra da PSP, dizendo que tinha ferido “a companheira com uma arma branca”, na Rua Professor Machado Vilela. Ainda foram acionados os meios de emergência, mas já só foi possível declarar o óbito.
“Viemos trabalhar de manhã e soubemos que a nossa colega tinha sido morta pelo ex-marido”, contou Paulo Brandão, diretor artístico do Theatro Circo, ao jornal Público. Ficaram todos em choque. Todos os dias a viam por ali a tratar de assuntos relacionados com a gestão quotidiana do teatro.
“Sempre muito simpática, disponível, prestável.” De acordo com os colegas, Gabriel tinha-se “separado há pouco” do homem com quem se casara havia “dois ou três anos”, mas poucos sabiam que era vítima de violência doméstica ou que era alvo de perseguição. Ninguém imaginava tal desfecho.
“Isto é uma coisa que nos afeta a todos”, salienta Paulo Brandão. “Temos 17 mulheres a trabalhar aqui. Somos uma estrutura de cultura, mas também uma instituição que quer marcar a diferença, que quer levar a sociedade a pensar.”
Ao Expresso, Cláudia Leite, administradora do Theatro Circo e amiga da vítima, conta que Gabriela Monteiro, que trabalhava na área da gestão, “tinha acabado de se divorciar e confidenciara com algumas colegas de trabalho que era alvo de alguma perseguição por parte do ex-marido, que procurava ainda uma reconciliação e insistia numa aproximação”. “Havia ainda uma obsessão”.
Na quinta-feira, as portas do teatro mantiveram-se fechadas. Em solidariedade, a Companhia de Teatro de Braga – CTB cancelou o espetáculo que estava agendado para essa noite. Pelas 21h30, realizou-se uma vigília em frente ao velho edifício. Quem ali trabalha quis prestar homenagem a “Gabriela e a todas as vítimas de qualquer tipo de violência doméstica”.
“Convidamos a cidade a juntar-se a nós, vestindo de branco e trazendo consigo uma flor”, lê-se num comunicado que emitiram à hora do almoço de quinta-feira, antes da vigília.
Gabriela deixa dois filhos de uma relação anterior. Há uma terceira criança envolvida, o filho do suspeito de homicídio, também de uma relação anterior.
O homem, funcionário da Bragaparques, de 47 anos, está detido e foi presente esta quinta-feira no Tribunal Judicial de Guimarães.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, “o coordenador do grupo de trabalho para a definição de uma estratégia contra a violência doméstica tem efetuado uma monitorização permanente dos homicídios em contexto de violência doméstica”. Atendendo apenas a este ano, já há “indícios seguros de morte ocorrida em contexto de violência doméstica” de 21 pessoas do sexo feminino, incluindo uma criança, e seis do sexo masculino.
“Existem outros casos, designadamente com vítimas mulheres, que ainda não é possível assegurar com a necessária segurança que ocorreram em contexto de violência doméstica, aguarda-se que as investigações esclareçam os exactos contornos”, refere ainda o gabinete de imprensa do Ministério Público.
O número de queixas apresentadas nos postos da GNR e nas esquadras da PSP mantêm-se elevadas. Segundo o Relatório Anual de Monitorização de 2018, as forças de segurança registaram 26.432 participações de violência doméstica. Lisboa (5981), Porto (4614), Setúbal (2458), Aveiro (1804) e Braga (1801) foram os distritos com mais queixas.