Luisa Nhantumbo / Lusa

Venâncio Mondlane discursa em Maputo
“Não se sabe se está bem” e ninguém consegue falar com ele. O líder da oposição de Moçambique desapareceu no meio de um ataque policial que baleou 16 pessoas, 2 crianças.
A equipa do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane disse esta quarta feira que desconhece o paradeiro do político moçambicano, após disparos da polícia para dispersar uma multidão que o acompanhava numa passeata, em Maputo.
Segundo um comunicado divulgado esta quarta feira pela equipa do ex-candidato, quando se iniciaram os disparos, a caravana “desmembrou-se” e não se consegue contactar Mondlane, cuja passeata, interpelada por volta das 13h (menos duas horas em Lisboa), no bairro de Hulene, ao longo da avenida Julius Nyerere, seguia em direção à Praça dos Combatentes, depois de partir da Praça da Juventude, no bairro Magoanine, nos subúrbios de Maputo.
“Não se conseguiu falar com ele até agora e não se sabe se o presidente está bem”, disse, em declarações à Lusa, Abdul Nariz, da equipa de comunicação do ex-candidato presidencial, usando a palavra “presidente” para se referir a Mondlane, que é na verdade opositor do atual presidente do país, Daniel Chapo.
Pelo menos 16 pessoas, incluindo duas crianças, foram baleadas hoje de manhã entre os apoiantes que acompanhavam a passeata, avançou a Plataforma Decide, organização não-governamental (ONG) que acompanha os processos eleitorais.
Um membro da comitiva de Mondlane está entre os feridos durante os disparos da polícia moçambicana, disse fonte da sua equipa, sem adiantar mais detalhes.
Em protesto contra os disparos à caravana, populares bloquearam hoje uma das principais avenidas de acesso a diversos bairros dos subúrbios de Maputo, num dia em que se assinou um acordo para travar a crise pós-eleitoral.
A polícia moçambicana posicionou-se em todas as principais vias e avenidas que dão acesso ao Centro de Conferências Joaquim Chissano, local onde foi assinado o acordo político entre o Presidente de Moçambique e formações partidárias no âmbito do diálogo em curso.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 9 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, de acordo com a Plataforma Decide.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
// Lusa