SNS reteve 86% dos médicos formados nos últimos cinco anos

Mas há especialidades com taxas muito mais baixas. Mais de mil dos formados desde 2019 fugiram para os privados.

Entre os 7116 jovens médicos que terminaram a sua formação nos últimos cinco anos, 6099 encontravam-se vinculados ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) em fevereiro de 2024. No entanto, há especialidades com taxas de retenção muito mais baixas.

Entre estes estão 81% dos formados no ano de 2019 e 90% dos que se tornaram especialistas o ano passado, segundo a informação enviada ao Público pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

Mas se cardiologia pediátrica tem adesão de 100%, medicina geral e familiar de 86% e saúde pública de 81%, há especialidades que contrastam — e muito — com esta realidade.

Os formados em Farmacologia Clínica foram os que o SNS menos conseguiu reter: apenas 33% ficou no serviço público.

Medicina Desportiva (50%), Medicina do Trabalho (53%), Medicina Nuclear (59%), Psiquiatria (70%), Psiquiatria da Infância e da Adolescência (70%), Anatomia Patológica (71%), Dermatovenereologia (73%), Medicina Física e de Reabilitação (77%), Radiologia (79%), Doenças Infeciosas (79%) e Imunoalergologia (79%) são as outras especialidades com menor taxa de retenção.

“Estado tem de ser competitivo”

Para a presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), é preciso “ter uma visão temporal dos últimos 20 anos, para se perceber onde é que as pessoas estão ao fim de cinco e dez anos”. Para tal, defendeu Joana Bordalo e Sá, “deviam ser conhecidos dados da taxa de permanência ao longo dos anos”.

São precisos melhores salários, condições de trabalho e perspetiva de progressão” para reter profissionais de saúde, acrescenta. Também essencial é o “regresso [a horários] de 35 horas semanais.”

“De certeza que muitos médicos acabariam por permanecer [no SNS], sobretudo os mais jovens”, afirmou Bordalo e Sá.

Para o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a taxa de retenção de 86% mostra que “não fazem sentido” medidas como obrigar os médicos a ficarem no SNS após o fim da formação, como estava previsto no programa eleitoral do PS.

Diz o responsável que “o Estado tem de ser competitivo” em relação aos privados, oferecendo “flexibilidade de horários, autonomia organizativa das equipas, perspetiva de carreira, investimento na formação e abrirem, nos concursos, todas as vagas disponíveis”.

O número de vagas por preencher no internato médico era, em novembro passado, “motivo de preocupação”: 21,2% dos jovens médicos optaram por virar costas ao SNS. A formação de médicos de família — uma das maiores carências nacionais — estava entre as áreas mais afetadas.

Sobre o total de vagas por preencher, Joana Bordalo e Sá referiu que “21,2% dos candidatos optarem por não escolher uma vaga no SNS significa que desistem, numa fase tão precoce, do SNS”.

ZAP //

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