Autor anti-fascista acusa Meloni de censura após cancelamento de aparição na televisão pública

Fabio Cimaglia / EPA

Giorgia Meloni

O autor acusa Meloni de interferir nos contéudos da televisão pública, após vários jornalistas já terem ameaçado fazer greve e denunciado pressões para serem um “megafone” do Governo.

A televisão pública italiana Rai está a ser acusada de censura após ter cancelado a aparição programada de Antonio Scurati, um escritor anti-fascista e crítico da primeira-ministra Giorgia Meloni.

Scurati, conhecido pelo seu best-seller sobre a ascensão do ditador Benito Mussolini, foi convidado pela Rai 3 para uma participação em antecipação do 25 de abril, o dia em que a Itália comemora a vitória sobre o fascismo, escreve o Financial Times.

O cancelamento, anunciado a Scurati por email apenas dias antes do evento, desencadeou um intenso debate em toda a Itália, envolvendo a gestão da Rai, a primeira-ministra e vários intervenientes nos média.

Embora o discurso de Scurati tenha sido eventualmente lido no programa pelo apresentador e publicado em vários jornais e em plataformas de redes sociais, incluindo a página do Facebook de Meloni, o incidente aumentou as preocupações sobre a liberdade de expressão e a independência do emissora.

No seu monólogo, Scurati criticou Meloni, que iniciou a sua carreira política num partido neo-fascista fundado pelos aliados de Mussolini, por tentar “reescrever a história” e por não repudiar completamente o fascismo. O autor especificamente notou que Meloni condenou as “brutalidades indefensáveis” do regime, como a perseguição aos judeus, mas sem rejeitar totalmente a ideologia fascista.

A gestão da Rai defendeu a sua decisão de cancelar a aparição de Scurati, citando razões “económicas e contratuais”, incluindo o honorário do autor, que foi alegadamente de €1800 — um ponto destacado pela própria Meloni como sendo excessivo e equivalente ao salário mensal de muitos funcionários da Rai. Paolo Corsini, diretor de programas de análise da Rai, insistiu que não houve “censura”.

O sindicato dos jornalistas da Rai, no entanto, expressou preocupações de que o controlo editorial por parte da gestão está a tornar-se “mais sufocante a cada dia“, e alertou para uma possível greve. Os jornalistas apontam que o atual conselho, predominantemente composto por nomeados da coligação de direita de Meloni, está a tentar usar a emissora como um “megafone” para o governo.

No meio da polémica, Scurati escreveu uma coluna para o La Repubblica onde lamentou que as suas opiniões sobre o fascismo estivessem a ser silenciadas e acusou a Primeira-Ministra de aproveitar o seu poder para reprimir a dissidência. “É este o preço que tem que se pagar na sua Itália para expressar os seus pensamentos?”, questionou.

Este episódio surge num momento em que a Rai já está a experienciar turbulência, com várias figuras proeminentes a saírem para canais privados e jornalistas a ameaçarem fazer greve.

ZAP //

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