Gastar quase nada do seu vencimento permitiu a compra de dois apartamentos num prazo de nove anos. A vida invulgar de Wang.
“O problema é que algumas pessoas gastam dinheiro para serem felizes. A minha felicidade vem de não gastar dinheiro. E o mais doloroso é que, quando as pessoas morrem, o dinheiro não é gasto”. Palavras de Wang Shenai.
Poupar, poupar, poupar. Fazer sacrifícios e, anos depois…ter dois apartamentos.
Foi este o plano de Wang Shenai, uma chinesa que preferiu sacrificar muitas rotinas e alguns “prazeres” do dia-a-dia para poupar.
O caso de Wang surgiu nas notícias após uma entrevista da própria ao portal Tencent, na China.
Wang tem 32 anos, vive em Nanjing (zona Leste da China) é casada e tem dois filhos pequenos. Mesmo assim, optou por um regime rígido de poupança.
O regime começou em 2013. A regra número um foi sempre: poupar 90 por cento do salário. Ou seja, ao longo de nove anos Wang só gastou, em média, 10 por cento do seu salário em cada mês.
Roupas oferecidas e o caso do tablet
Poupar em tudo que fosse possível. A chinesa e o seu marido chegaram a vestir roupas que não são deles; foram oferecidas por amigos. Wang só gastava dinheiro em roupa interior (13 euros por ano).
Os móveis que tinham em casa eram em “segunda mão”, quase nunca saíam (para saídas que envolvesse gastar dinheiro), os convívios sociais (pagos) eram raros, férias igualmente. Carro? Também não. Só transportes públicos.
Wang contou que, há uns anos, queria ter um tablet. Queria e comprou. Mas, depois de o ter, percebeu que o tablet afinal não era muito útil. A partir daí, passou a pensar duas vezes antes de cada compra.
Uma questão de contexto
É verdade que esta rotina originou diversos sacrifícios mas não foi propriamente uma novidade: desde a sua infância que Wang Shenai tem o hábito de gastar pouco – cresceu numa família pobre, que sempre gastou muito pouco (porque também nunca teve muito para gastar).
Quando era criança, os seus pais discutiam quase diariamente. Depois das discussões, a mãe ia dormir para a casa dos pais (avós de Wang), enquanto o pai colocava a filha fora de casa, para ir dormir na casa de uma amiga.
Aí, na casa “estranha”, a pequena Wang era muito contida: dormia no chão sem se queixar, comia pouco (nem se atrevia a pedir mais) e tinha que esperar até à meia-noite para ir à casa-de-banho.
Nunca deu a mão aos pais. Nunca foi abraçada pelos pais. Começou a ficar “obcecada” por dinheiro, por ter casa. Porque o exemplo que tinha no seio familiar era esse: “Ganhar dinheiro custa muito, nunca o desperdices!”. E porque queria ter uma casa sua.
“Nunca podes esperar que sejam os outros a dar-te auto-estima e amor próprio”, concluiu, ao recordar a sua infância.
As “mesquinhas”
Habituada a não ter casa, quando cresceu a sua prioridade sempre foi clara: ter uma casa. Mesmo que não fosse muito grande ou confortável, queria ter o seu espaço. Segurança.
Encontrou um marido que também opta por uma vida minimalista e, juntos, iniciaram este percurso.
O seu percurso passou a ser muito conhecido na internet. Também recebeu críticas, mas lembra: “Nunca encorajei ninguém a fazer o mesmo”.
E nem se queixa da sua rotina: “Todos os dias eu saio do trabalho, chego a minha casa, como um jantar feito em casa, vejo dois filmes… Este tipo de vida também é muito bom“.
Apelidada muitas vezes como “mesquinha”, a chinesa recusa esse adjectivo mas, por ironia, acabou por se tornar numa das representantes da «Federação das Mulheres Mesquinhas». Uma comunidade com mais de 400 mil mulheres, que todos os dias partilham dicas de poupança. A ideia é aprender, divertir e oferecer apoio espiritual entre elas.
Indiferente às críticas e ao facto de ser “anormal”, tanta poupança fez com que, ao fim de nove anos, já tenha comprado dois apartamentos.
E sente-se bem. Sobretudo com paz interior.