A crise provocada pela covid-19 obrigou o operador turístico Barracuda Tours, gerido por portugueses e com início de operações em Cabo Verde nos anos 1990, a encerrar delegações e a reduzir trabalhadores, mas está a contar com a retoma turística com voos ‘low cost’.
A empresa de excursões começou a operar no arquipélago há cerca de 30 anos, com a primeira operação ‘charter’ oriunda do mercado português, por iniciativa do operador Abreu, também pioneiro na programação de viagens turísticas para Cabo Verde nos mercados de Portugal e Espanha.
Na altura, havia apenas dois hotéis na ilha do Sal com características para receber turistas – Morabeza e Belorizonte -, como recorda à agência Lusa o fundador e gerenta da empresa, Ernesto Simões Carneiro.
Mas tarde, apareceram outras unidades hoteleiras que dinamizaram o mercado turístico na ilha do Sal, que se tornou no principal destino dos turistas – 819 mil em 2019 – que chegam ao arquipélago.
Mas com a crise provocada pela epidemia da covid-19, o empresário constata que a indústria turística de Cabo Verde, seguindo o que acontece em todo o mundo, ficou “praticamente reduzida a zero”.
As perspectivas de recuperação não são muito animadoras, até face ao “descontrolo actual da pandemia nos mercados tradicionalmente emissores de turistas para Cabo Verde”.
A empresa foi obrigada e encerrar a sua sucursal em Portugal, bem como delegações nas ilhas cabo-verdianas da Boa Vista, Santiago, São Vicente e Santo Antão, reduzindo o seu pessoal, que era 90% cabo-verdiano, a um número mínimo de colaboradores.
Segundo Ernesto Carneiro, foram negociados acordos de rescisão, facultando aos trabalhadores despedidos a posse de material, móveis e utensílios, informática e viaturas das delegações, para poderem criar empresas em nome individual através das quais farão a gestão de operações futuras garantindo a sua sobrevivência económica.
Entretanto, a empresa continua a manter o ‘lay-off’, de acordo com as decisões governamentais, para os poucos trabalhadores com quem manteve o vínculo laboral.
Desde 12 de Outubro que Cabo Verde reabriu o arquipélago a voos internacionais comerciais, algo que não acontecia desde 18 de Março, na sequência da decisão tomada pelo Governo para travar a pandemia.
Para o gerente da Barracuda Tours, a abertura do tráfego aéreo com destino e a partir do arquipélago é “uma boa notícia”, mas o maior obstáculo à reactivação de fluxos turísticos para Cabo Verde são as poucas ligações aéreas.
Ernesto Carneiro lembra que a TAP tinha 17 voos semanais para Cabo Verde a partir de Lisboa e a Cabo Verde Airlines (CVA) tinha também voos a partir de Lisboa e do Sal para vários outros pontos da Europa, Brasil, Estados Unidos e África.
Tudo isso está parado. A TAP mantém apenas alguns voos para Santiago e São Vicente, mas que “não serão suficientes para ocupar as milhares e milhares de camas no Sal e Boa Vista e outras ilhas”.
Quanto à parceria da Cabo Verde Airlines e da Icelandair, o gerente entende que “morreu”, pelo que não acredita que o gestor islandês reactive a sua programação anterior ou qualquer tipo de parceria com a companhia de bandeira cabo-verdiana.
“Também não creio que o Estado de Cabo Verde tenha recursos financeiros para manter uma companhia nacional de bandeira quando todos os outros países se estão a tentar desfazer delas reduzindo custos operacionais, vendendo aviões, despedindo tripulações e dezenas de milhares de trabalhadores”, salienta Ernesto Carneiro.
Por isso, no seu entender, o Estado deve procurar alternativas rapidamente, frisando que os voos ‘low cost’ [a baixo custo] podem ser a solução se alguém for negociar com elas e apresentar propostas aliciantes de garantias por parte de Cabo Verde.
“Deveriam ser negociadas parcerias com companhias ‘low cost’ internacionais que, em negociação directa com o Governo de Cabo Verde, que teria de assumir riscos, garantam ligações aéreas e tarifas acessíveis para Cabo Verde a partir dos principais mercados emissores”, afiança o empresário.
Com poucas ligações aéreas, Ernesto Carneiro diz que as perspectivas de recuperação do sector turístico de Cabo Verde apresentam-se “muito pessimistas, mesmo para 2021”. Mas nota que a Barracuda Tours espera “começar em breve” e “renascer das cinzas”.
Cabo Verde regista um acumulado de 7.800 casos de covid-19 diagnosticados desde 19 de Março, com 87 mortos por problemas associados à doença.
ZAP // Lusa