Mais de 1400 pessoas e várias organizações manifestam a “indignação” contra a libertação dos três jovens influencers suspeitos da violação de uma menor de 16 anos. Partilharam as imagens nas redes sociais, e continuam a publicar como se nada tivesse acontecido.
A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres divulga um documento assinado por 40 organizações e por mais de 1400 pessoas, a título individual, onde pede a “suspensão imediata do acesso dos suspeitos às redes sociais, impedindo que continuem a instrumentalizar o crime e a expor a vítima”.
Esta posição surge depois de os três suspeitos terem sido presentes a um juiz, após a denúncia da violação apresentada pelo Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, na sequência do tratamento médico prestado à vítima, e de terem sido libertados.
Os três influencers, que partilharam as imagens da violação nas redes sociais, ficaram sujeitos a apresentações semanais e proibidos de contactar com a vítima.
Influencers acusam vítima de “inventar grande história”
Nos últimos dias, os suspeitos publicaram vários vídeos onde brincam, inclusive, com a situação, lamentando que, para a próxima, a vítima teria que sair “a andar”.
Num vídeo divulgado no TikTok, um dos suspeitos refere ainda que as notícias que saíram são “mentira” porque não eram três, mas “quatro” os intervenientes.
“A gente ia ter com ela para acontecer o que ia acontecer, mas chegámos e não tivemos nada com ela. Não lhe tocamos nem nada“, refere ainda, notando que tiveram “nojo”.
Como a adolescente de 16 anos “ficou transtornada porque nos queria pegar, foi inventar uma grande história e está a causar um grande problema”, conclui o mesmo jovem.
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“Na vida há pessoas más que fazem de tudo para nos fazer cair, mas Deus sabe e vê tudo”, escreve outro dos suspeitos numa “história” no Instagram.
“Quem me conhece sabe que nunca faria nada do que estou a ser alegadamente acusado. Estou inocente e irei prová-lo”, acrescenta.
“Justiça passa perigosa mensagem de impunidade”
A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres considera que “a libertação dos três arguidos suscita indignação e alarme“, considerando que o caso “evidencia um problema sistémico na aplicação de medidas de coação inadequadas para a prevenção de crimes contra mulheres e raparigas, revelando falhas estruturais na protecção das vítimas e uma menorização dos crimes praticados”.
Assim, a Plataforma pede o “reforço urgente das medidas de coacção, assegurando a protecção efetiva da vítima e a segurança de todas as pessoas envolvidas”.
A entidade recorda ainda que as imagens da violação em grupo, divulgadas nas redes sociais, terão sido “visionadas por milhares de pessoas”, dado o elevado número de seguidores dos três suspeitos.
Apesar disso, os três jovens “continuam com acesso aos seus perfis digitais, o que possibilita, perversamente, a capitalização do tema-notícia pelos próprios e a culpabilização da vítima”, acrescenta a Plataforma.
A justiça passa “uma perigosa mensagem de impunidade, minando a confiança no sistema de Justiça e perpetuando a cultura de violência contra as mulheres e raparigas”, analisa ainda.
“A não responsabilização de um violador equivale à impunidade de todos“, constata a Plataforma.
O documento é assinado por 40 organizações, incluindo a própria Plataforma, mas também vários colectivos feministas e associações ligadas aos direitos da mulher, o PAN, a Juventude Socialista, a Animar – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local e a VIDAs – Associação Portuguesa de Menopausa, entre outras entidades.
Os influencers incorrem em crimes de violação agravada e de pornografia de menores.