Uma startup norte-americana desenvolveu uma vacina que reduz as emissões de metano provenientes dos arrotos e flatulência das vacas — uma das principais fontes de emissões deste gás com efeito de estufa.
A criação de gado bovino para consumo de carne é a principal fonte de metano em todo o mundo, incluindo em Portugal, onde as emissões de um dos gases mais perniciosos para o ambiente aumentaram 48% nos últimos 20 anos.
Nos últimos anos, diferentes abordagens têm procurado resolver ou atenuar o problema crescente, entre as quais cobrar impostos, usar algas vermelhas, novos suplementos alimentares, ou converter os arrotos em diamantes — solução proposta pelo inventor do iPod, Anthony Michael Fadell.
Agora, a startup norte-americana ArkeaBio apresentou um protótipo de uma vacina que reduziu as emissões de metano em 13% num primeiro ensaio que envolveu 10 vacas — e que promete ser mais uma forma potencial de reduzir o impacto climático da criação de gado.
A vacina funciona através da estimulação do sistema imunitário da vaca a produzir anticorpos na sua saliva, que tem como alvo os micróbios produtores de metano no rúmen.
Segundo a New Scientist, o gado produz metano como subproduto da fermentação de gramíneas e feno no rúmen, a primeira parte do trato digestivo destes animais.
Num primeiro estudo, as vacas que receberam o protótipo desta vacina produziram menos 12,9% de metano durante um período de 105 dias, sem efeitos secundários adversos ou perturbações nas taxas de crescimento.
A investigação envolveu 10 vacas: cinco das quais um grupo de controlo e outras cinco que levaram a vacina. Cinco vacas levaram uma vacina no pescoço, seguida de uma de reforço após 56 dias.
O segundo estudo, que ainda está a decorrer, começou em junho deste ano com 14 vacas, e os primeiros resultados sugerem uma redução do metano de pelo menos 13%, esperando-se que os efeitos durem mais de três meses.
Há décadas que os cientistas trabalham na ideia de uma possível vacina contra o metano para as vacas, com pouco sucesso, mas as reduções drásticas de custos na biotecnologia podem levar a vacina a uma possibilidade comercial.
A empresa espera lançar no mercado uma vacina que reduza as emissões de metano em 15-20% por vaca, mantendo essa redução durante, no mínimo, de três a seis meses.
“A coisa mais importante a fazer é mostrar que o mecanismo de ação funciona e, depois, é possível utilizar as ferramentas da biotecnologia para expandir esse desempenho”, conclui o diretor da Texas A&M Agrilife ,Cliff Lamb.
Controlar as emissões de metano das vacas é cada vez mais importante para ajudar a salvar o planeta e os próprios bovinos, que ocasionalmente morrem vítimas da sua própria flatulência — como aconteceu em 2023, numa herdade no Texas, onde uma explosão matou 18 mil vacas.