Afinal, o uso de uniformes nas escolas não reduz o bullying

A crença de que o uso de uniformes ajuda a aumentar o sentimento de pertença das crianças está errada, segundo as conclusões de um novo estudo. Também não se notam mudanças no bullying.

Será que as crianças são mesmo mais disciplinadas e bem-comportadas se usarem uniforme na escola? Este é um argumento comum usado a favor da imposição do código de roupas nos estabelecimentos de ensino e um novo estudo procurou descobrir a resposta definitiva.

A pesquisa analisou 6000 crianças em idade escolar e os resultados foram publicados no Early Childhood Research Quarterly. “Muitos dos principais argumentos sobre como os uniformes são bons para o comportamento dos alunos não se comprovaram com a nossa amostra”, revela Arya Ansari, autor principal do estudo e professor de ciências humanas da Universidade do Ohio, citado pelo Tech Explorist.

O especialista sublinha que não há muitas investigações sobre o valor dos uniformes escolares nos últimos anos, especialmente tendo em conta o aumento do seu uso dos últimos anos.

Os seus defensores argumentam que os uniformes promovem a assiduidade e um sentido de comunidade, o que leva a menos bullying. Os investigadores usaram dados de um estudo longitudinal desde o início da infância que acompanhou uma amostra representativa dos EUA de 6320 alunos, desde o infantário até ao fim do quinto ano.

Os professores avaliaram cada estudante em três dimensões a cada ano: problemas comportamentais internalizados (como a ansiedade ou o isolamento social), problemas comportamentais externalizados (como a agressividade ou o vandalismo) e as capacidades de socialização. A assiduidade também foi tida em conta.

Mesmo tendo em conta outros factores que podiam influenciar o comportamento dos alunos, os uniformes não mostraram ter nenhum efeito nas dimensões que foram avaliadas. A única correlação notada foi de que os alunos mais pobres que usavam uniforme tiveram uma assiduidade ligeiramente maior, mas a diferença era de menos de um dia por ano.

Os cientistas também analisaram os relatos dos alunos quando estavam no quinto ano sobre a sua relação com os professores e colegas, o sentimento de pertença e a experiência com o bullying e com a ansiedade social.

Não se notaram quaisquer diferenças a nível do bullying e da ansiedade, mas os alunos que usaram uniformes tiveram um sentimento de pertença mais baixo do que aqueles que estudam em escolas que não definem a roupa das crianças, o que contraria o argumento dos apoiantes dos uniformes.

A moda é uma forma dos estudantes se expressarem e isso pode ser uma parte importante da experiência escolar. Quando os estudantes não podem mostrar a sua individualidade, podem sentir que não pertencem”, propõe Ansari. O estudo não chegou a uma explicação definitiva deste fenómeno.

Assim, os resultados deste estudo dão uma nova perspetiva – baseada em dados concretos – para as escolas e encarregados de educação que estejam a ponderar avançar com a imposição de uniformes.

ZAP //

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