Uma em cada cinco crianças em idade escolar usa óculos, devido, entre outras causas, ao aumento de tarefas e uso de computadores, disse hoje o oftalmologista Paulo Vale, alertando para a importância dos rastreios a partir dos três anos.
“A percentagem de crianças que necessita de óculos tem vindo a aumentar. Na idade escolar (até aos 16/17 anos) temos uma percentagem de 20% e no pré-escolar (até aos 4/5 anos) de 5 a 7%”, adiantou à agência Lusa Paulo Vale, da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO).
O especialista realçou que a tendência mundial aponta para um aumento dos problemas de visão entre as crianças nos últimos anos, havendo inclusive mais com defeitos refrativos, ou seja, passíveis de serem corrigidos com óculos.
No entender do médico oftalmologista, na origem deste aumento estão vários fatores, como o aumento das tarefas escolares nas crianças, o uso crescente de computadores e tablets, o excesso de televisão e a exposição à luz artificial, assim como a componente genética e a prematuridade.
“Estes fatores são causas frequentes do aumento dos problemas refrativos, como a miopia, que tem vindo a subir nos últimos anos”, explicou, salientando que o ideal seria que as crianças fizessem um rastreio visual a partir dos três anos.
“Não existe nenhum regime obrigatório para o rastreio, depende da sensibilidade dos pais para os sinais de alerta e do pediatra ou médico de família”, declarou.
Paulo Vale sublinhou que os defeitos refrativos quando detetados até aos três ou quatro anos “são tratáveis” e reconheceu que nem sempre é fácil para os pais perceberem se os filhos têm problemas de visão, porque as crianças são muito ativas e curiosas, o que dificulta essa perceção.
“A não ser que seja um defeito muito grande, os pais não percebem. É difícil de perceber se uma criança se aproxima da televisão por curiosidade ou porque vê mal. Quando entram nos infantários ou na escola já é mais fácil”, explicou, defendendo que, por este motivo, o rastreio precoce e regular “é tão importante”.
O que está preconizado pela SPO, em coordenação com o Ministério da Saúde, é que o rastreio visual das crianças seja feito periodicamente”, frisou, acrescentando que “o ideal é ser feito no primeiro ano de vida e depois aos 4 anos“, uma vez que “entre os três e os quatro anos vai a tempo de corrigir muita coisa”.
Os problemas visuais mais frequentes nas crianças são a miopia, o astigmatismo e a hipermetropia, mas “existem também doenças oculares como o estrabismo, doenças da retina e das vias lacrimais, o retinoblastoma, o glaucoma congénito e a retinopatia da prematuridade (que tem vindo a aumentar)”.
Por isso, o oftalmologista aconselha os pais a estarem atentos aos sinais de alerta, ou seja, quando as crianças se aproximam demasiado da televisão, quando lacrimejam, quando apresentam fotofobia (intolerância à luz) e olhos vermelhos.
/Lusa