Quanto maior, melhor, parece ser o lema do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. O último exemplo é o novo palácio presidencial em Ancara, um gigantesco complexo de edifícios com mil quartos.
O novo palácio foi batizado com o nome “Ak Saray” (Palácio Branco, ou Casa Branca), numa alusão ao nome do partido (AK Parti), mas também à Casa Branca em Washington, cuja tradução é “palácio” em turco.
O edifício será inaugurado na quarta-feira, durante a cerimónia formal do Dia da República.
O novo palácio vai substituir o Palácio Presidencial de Çankaya, que serviu de residência para os presidentes turcos desde a fundação do Estado em 1923, após ter sido escolhido pessoalmente pelo “Pai da Nação”, Mustafa Kemal Atatürk em 1921.
Com 300 mil metros quadrados, três blocos de edifícios, o novo palácio não só ultrapassa em tamanho as residências oficiais dos chefes de Estados da França, Grã-Bretanha, Rússia e dos Estados Unidos, mas também a do sultão de Brunei, registado no Livro de Recordes do Guinness como o de maior dimensão do mundo.
“Desde que o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) chegou ao poder em 2002, que teve uma obsessão: ter algo grande não é suficiente. Eles precisam de alguma coisa maior”, disse à agência espanhola Efe o analista político Tarik Sengul.
A nova residência de Erdogan é também cinco vezes maior do que o Palácio Dolmabahçe, em Istambul, a deslumbrante residência dos sultões otomanos.
Além dos quatro minaretes e de uma mesquita em construção, o complexo inclui um ´bunker` antinuclear que permitirá realizar todas “as operações do Governo”, além de um gabinete presidencial e de escritórios blindados e à prova de espionagem, onde se pode apenas entrar após se verificarem as impressões digitais ou da retina.
O novo palácio, com um custo estimado entre 300 milhões a 500 milhões de euros, estará a funcionar plenamente na próxima Primavera, quando a família de Erdogan se transferir para um edifício dentro do complexo.
Embora o interior do palácio deva ter uma decoração do estilo otomano, já a parte exterior deverá transmitir a mensagem de que Ancara “é uma capital selêucida”, nas palavras de Erdogan, embora esta tribo turca, que conquistou a Anatólia desde 1021, nunca tenha governado na região.
Erdogan também já anunciou a construção do maior aeroporto do mundo em Istambul (que está ainda a ser planeado), além de outros megaprojetos, que têm merecido críticas.
O palácio situa-se numa área de bosques na periferia da cidade, a qual foi considerada por Atatürk como um terreno agrícola experimental e que atualmente se tornou num dos “pulmões verdes” da cidade.
Milhares de árvores foram arrancadas durante a edificação do AK Saray e depois da denúncia de ecologistas, engenheiros e arquitetos, os tribunais decidiram em março último suspender a sua construção.
Mas Erdogan fez eco público do seu desprezo em relação à sentença: “Não foi feito nada de ilegal. Se têm força suficiente derrubem-no. Mas não poderão interrompê-lo, não poderão parar a construção. Eu inaugurá-lo-ei, entrarei e residirei nele“, prometeu.
“Com esta obsessão, os dirigentes violaram as suas próprias leis, destruíram cidades e danificaram o legado arquitetónico e cultural da República”, assegurou Sengül.
/Lusa