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Um quarto dos infectados com VIH foram excluídos da família

Marcelo Camargo / ABr

foto: Marcelo Camargo / ABr

foto: Marcelo Camargo / ABr

Uma em cada três pessoas infectadas com o VIH diz ter sido discriminada no acesso a cuidados de saúde no último ano, revela um estudo que analisou o estigma relacionado com o vírus em Portugal. 

O “Stigma Index Portugal” mostra que metade dos portadores do VIH foi forçada a mudar de casa e perdeu uma oportunidade de trabalho. Pedro Silvério Marques, diretor do Centro Anti-Discriminação VIH/Sida, disse à agência Lusa que existem três “grandes áreas a atacar”: serviços de saúde, o acesso à habitação e o trabalho.

Os tipos de exclusão podem ser diversos: 24,7% dos inquiridos disseram ter sido afastados de “atividades com familiares”, 23,3% de “atividades religiosas ou dos lugares de culto” e 20,1% de “encontros ou atividades sociais“. Sobre as consequências da discriminação, 25% dos participantes foram forçados a mudar o local de residência ou impedidos de arrendar casa e 25% foi-lhes recusado ou negado uma oportunidade de trabalho.

“O objetivo do estudo foi identificar e caracterizar uma situação de que todos falamos, como prioritária para resolver, mas de que não conhecíamos os seus contornos, consequências e causas em Portugal, que é a discriminação pelo facto de se viver com VIH/Sida“, disse Pedro Silvério Marques, que foi também o coordenador do estudo.

O “Stigma Index Portugal“, que será divulgado hoje na III Conferência VIH Portugal, faz parte de um um projeto internacional, coordenado em Portugal pelo Centro Anti-Discriminação. O estudo inquiriu 1.474 pessoas infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) em hospitais e centros hospitalares de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, distritos em que a prevalência dos casos notificados era superior a 5%.

Discriminação nos serviços de saúde

O responsável afirma ter ficado “surpreendido” com “o peso que a discriminação tem nos serviços de saúde”, pensando que esta carga seria maior no meio laboral. “Cerca de 30% das situações são originadas nos serviços de saúde, o que é inaceitável”, lamentou.

Nos últimos 12 meses, foi negada a prestação de cuidados de saúde, como o tratamento de dentes, a 22,9% dos inquiridos, refere o estudo. Já 5,7% viram recusado o atendimento num serviço de planeamento familiar e 3,4%, na área da saúde sexual e reprodutiva.

Na área da saúde há “um duplo tratamento”, disse Pedro Silvério Marques, explicando: “No serviço de doenças infecciosas, de um modo geral, as pessoas são tratadas sem qualquer discriminação, mas quando têm de passar para outros serviços, é uma desgraça”.

Da necessidade de formar e informar

“O grande problema é que, até agora, todas as tentativas que fizemos de formação direcionada aos técnicos de saúde nos hospitais esbarraram sempre com uma declaração de auto-suficiência”, sublinhou.

O Centro Anti-Discriminação tem realizado sessões de formação juntos de professores, formadores, técnicos do serviço social, que têm “uma vontade imensa” de participar nestas ações sobre VIH e estigma e sobre a forma correta de tratar as pessoas com VIH, mas “no sistema de saúde isso é impossível“.

“Temos insistido com a Direção-Geral da Saúde [DGS] para que seja ela a propor estas formações, porque a reação podia ser diferente, mas não conseguimos“, lamentou. Alguns estudantes de medicina já participaram nestas ações, “mas a classe médica em geral, considera que sabe tudo e não tem nada a aprender com ninguém”.

Pedro Silvério Marque espera que os resultados do estudo incentivem a DGS “a olhar para este problema de uma forma muito mais séria e desenhar programas de intervenção junto dos estudantes de medicina, dos clínicos e dos enfermeiros para que se ultrapasse esta situação, que é vergonhosa para a classe e vergonhosa para os serviços”.

/Lusa

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