Um cardume de arenques com flatulência quase provocou uma guerra entre a Suécia e a Rússia

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Jan Collsiöö / TT

O submarino russo U-137 encalhou em 27 de outubro de 1981 no arquipélago de Karlskrona

Na década de 1980, um grande incidente diplomático entre dois países vizinhos foi desencadeado por um caso de flatulência de peixes. A Rússia e a Suécia quase entraram em guerra — e estiveram 15 anos sem saber porquê.

A 27 de outubro de 1981, um submarino estrangeiro encalhou em frente à pequena cidade costeira de Karlskrona, no sul da Suécia. O incidente deu início a um braço de ferro diplomático de 11 dias entre a Suécia e a União Soviética.

Segundo contava em 2015 a Sverie Radio, os soviéticos alegaram que foram forçados a entrar em território sueco devido a graves dificuldades e erros de navegação posteriores, enquanto a Suécia viu nisso uma prova de que a então União Soviética estava a infiltrar-se nas águas suecas.

Além disso, quando as autoridades suecas mediram secretamente materiais radioativos usando espectroscopia de raios gama, detetaram urânio-23 (usado para revestimento de armas nucleares) dentro do submarino, indicando que poderia estar armado.

O submarino foi devolvido a águas internacionais, mas o Governo sueco permaneceu alerta, convencido de que submarinos russos ainda poderiam estar a operar perto do seu território.

Nessa altura, as autoridades começaram a captar sinais e sons subaquáticos evasivos. Em 1982, vários submarinos, barcos e helicópteros suecos perseguiram durante mais de um mês uma dessas fontes não identificadas — mas não descobriram o que era.

Esta perseguição durou mais de uma década. Sempre que captavam um sinal acústico, as autoridades suecas procuravam – e nunca encontravam nada além de algumas bolhas na superfície do mar.

A Suécia estava preocupada com as intrusões e não percebia porque é que, com o fim da Guerra Fria, a Rússia continuaria a provocá-los dessa forma.

Em 1996, Magnus Wahlberg, professor da Universidade do Sul da Dinamarca, envolveu-se na investigação dos sinais estranhos.

“Fomos trazidos para esta sala muito secreta sob a base naval de Bergen em Estocolmo”, explicou Wahlberg, em 2012, numa palestra TEDx. “Estávamos sentados lá com todos os oficiais e estavam a mostrar-nos os sons. Foi primeira vez que um civil ouviu o som. Parecia alguém a fritar bacon. Como pequenas bolhas de ar a sair debaixo de água”.

Wahlberg e um colega começaram a tentar descobrir o que poderia estar a fazer bolhas numa escala que faria a Suécia pensar que estava a lidar com um submarino nuclear.

“Acontece que o arenque tem uma bexiga natatória… e essa bexiga natatória está conectada ao ducto anal do peixe”, disse Wahlberg. “É uma ligação única, encontrada apenas no arenque. Portanto, um arenque pode espremer a sua bexiga natatória e, dessa forma,  soltar um pequeno número de bolhas pela abertura anal”.

Os arenques nadam em cardumes gigantes que podem atingir vários quilómetros quadrados e até 20 metros de profundidade, explica o IFLS. Quando algo perto deles os assusta, podem gerar muito gás.

Para testar a sua teoria, Wahlberg comprou um arenque, aplicou pressão e o animal fez um barulho. Era a explicação perfeita para o barulho que estavam a ouvir.

A boa notícia? A Suécia não estava sob ameaça da Rússia. Porém, o país tinha passado mais de 10 anos a mobilizar o seu exército em busca de flatulência de peixe.

ZAP //

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