Um ano e milhões de vítimas inocentes depois

Mohammed Saber / EPA

Este artigo com números não é sobre números, é sobre pessoas. Esta segunda-feira, faz um ano que uma guerra sem precedentes renasceu em Israel. Um ano depois, o conflito alastrou-se pelo Médio Oriente, com consequências humanitárias nefastas.

A 7 de outubro de 2023, o movimento islamita palestiniano Hamas coordenou um ataque sem precedentes em Israel, desencadeando uma ofensiva israelita na Faixa de Gaza que já se estendeu ao Líbano.

Na madrugada daquele dia, 7 de outubro, um sábado, cerca de mil militantes do braço militar do Hamas – as Brigadas al-Qassam – e pelo menos quatro outros grupos armados palestinianos realizaram a operação ‘Tempestade de Al-aqsa’, na região sul de Israel que faz fronteira com a Faixa de Gaza.

No mesmo dia, Israel declarou guerra contra o Hamas e bombardeou o enclave palestiniano, iniciando cerca de três semanas depois uma ofensiva terrestre.

Desde então, milhões de vítimas morreram, ou ficaram feridas, ou estão desaparecidas, ou desalojadas e/ou à fome.

Segundo dados oficiais israelitas, 1.139 pessoas morreram durante o ataque do Hamas a 7 de outubro: 695 civis israelitas, incluindo 36 crianças, 373 elementos das forças de segurança e 71 estrangeiros.

Os militantes do Hamas e de outras fações palestinianas fizeram, nesse dia, dia 251 reféns, civis e militares. Atualmente, permanecem retidos 97 reféns, incluindo 33 declarados mortos pelo exército israelita. Há ainda mais quatro reféns, raptados antes de 7 de outubro. 35 reféns morreram em Gaza. Três deles foram mortos a tiro por engano pelo exército israelita em 15 de dezembro de 2023.

Mortos, feridos e desaparecidos

Degundo o Ministério da Saúde do governo controlado pelo Hamas (em números considerados fiáveis pela ONU) pelo menos 41.822 pessoas morreram e 96.844 ficaram feridas na sequência dos ataques israelitas na Faixa de Gaza, até esta sexta-feira. As autoridades de Gaza não distinguem entre mortos civis e militantes, mas cerca de 11 mil crianças e 6 mil mulheres terão morrido. Há ainda mais de 10 mil desaparecidos.

Do lado israelita, as autoridades dão conta de mais de 1.200 mortos e 5.400 feridos em Israel.

Em Gaza, 346 militares israelitas morreram e 2.297 ficaram feridos.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), entre 7 de outubro de 2023 e 23 de setembro de 2024, 693 palestinianos morreram na Cisjordânia – 150 eram crianças.

Deslocados, sem cuidados e à fome

Segundo a agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNWRA), 1,9 milhões de pessoas (de uma população total de 2,2 milhões) foram deslocadas internamente no enclave palestiniano (365 quilómetros quadrados). Em alguns casos, pessoas chegam a ser deslocadas dez vezes dentro do território.

Mais de metade dos hospitais (19) da Faixa de Gaza está fora de serviço. As Nações Unidas indicam que todos os hospitais no enclave foram afetados e nenhum permanece completamente funcional.

Apenas 1.500 camas de hospital estão operacionais, comparando com 3.500 camas em 2023, mesmo assim muito abaixo das necessidades da população. As forças israelitas tinham feito 492 ataques contra infraestruturas de saúde até 19 de setembro. As Nações Unidas dão conta de 190 instalações danificadas e 130 ambulâncias destruídas.

De acordo com a OCHA, 495 mil pessoas – perto de um quarto da população – em Gaza estão a enfrentar “níveis catastróficos de insegurança alimentar”.

Foram mortos mais de 10.300 estudantes e 416 funcionários do setor de educação mortos (até 24 de setembro). Cerca de 90% das escolas em Gaza estão destruídas (290 em 309 escolas), segundo o ministro da Educação palestiniano – dos estabelecimentos afetados, um terço são da UNRWA. A totalidade dos alunos está sem acesso a educação formal.

Médicos, voluntários e jornalistas mortos

As Nações Unidas dão conta de mais de 885 profissionais de saúde mortos até 24 de setembro, incluindo médicos, enfermeiros, paramédicos e outros trabalhadores.

Além disso, mais de 280 trabalhadores humanitários foram mortos, dos quais pelo menos 222 funcionários da UNRWA.

Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, mais de 130 jornalistas foram mortos por ataques israelitas desde o início desta ofensiva, incluindo pelo menos 32 no exercício das suas funções.

Cerca de 85.000 toneladas de explosivos foram lançadas em Gaza por terra, mar e ar nestes últimos meses de guerra, deixando pelo menos 80.000 casas inabitáveis, 125 escolas e universidades completamente destruídas e mais de 600 mesquitas desmoronadas.

A ONU estima que o volume de escombros acumulados em Gaza é 14 vezes superior à soma dos escombros gerados em todos os conflitos desde 2008, atingindo quase 42 milhões de metros cúbicos.

A reconstrução da Faixa de Gaza custaria entre 27 e 36 mil milhões de euros e exigiria um esforço sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.

Tantos números… mas as grandes vítimas são sempre as mesmas: inocentes.

ZAP // Lusa

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