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Um ano depois, o ‘Dono’ perdeu quase tudo e está preso em casa

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José Sena Goulão / Lusa

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES

Depois de mais de 20 anos na liderança do BES, Salgado, 71 anos, deixou o cargo a 20 de junho de 2014, antes da intervenção do Banco de Portugal na entidade, a 03 de agosto de 2014.

O ex-presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, esteve envolvido em vários processos judiciais ligados ao colapso do banco e do Grupo Espírito Santo (GES), sendo também arguido num mediático processo de fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Cerca de um mês depois de abdicar da presidência do BES, após a pressão feita durante meses pelo supervisor bancário para que tal acontecesse, Salgado foi detido a 24 de julho de 2014 no âmbito da operação Monte Branco, que investiga a maior rede de branqueamento de capitais descoberta em Portugal.

Findo o interrogatório judicial, foram aplicadas a Ricardo Salgado as medidas de coação de sujeição a caução, no montante de três milhões de euros, proibição de ausência do território nacional e proibição de contactos com determinadas pessoas.

Segundo o Ministério Público, em causa neste processo em que Ricardo Salgado foi interrogado está a eventual prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais.

Desde então, vários outros processos de índole administrativa, contraordenacional e criminal foram instaurados contra os antigos gestores do BES, com Salgado à cabeça.

O mais mediático, até ao momento, é o processo interposto pelo Banco de Portugal, mas muitas outras ações judiciais já deram entrada nos tribunais, a maioria por iniciativa de antigos investidores do BES e do GES (acionistas e subscritores de produtos de investimento), mas também por associações de defesa dos direitos dos consumidores, como é o caso da DECO.

Mário Cruz / Lusa

Mais recentemente, a 24 de julho deste ano, o antigo banqueiro foi ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, no âmbito das investigações ao denominado ‘Universo Espírito Santo’.

Desde então, o ex-presidente do BES ficou em prisão domiciliária, já que foi obrigado à “permanência na habitação, de onde só pode sair com autorização do juiz”, disse o seu advogado, Francisco Proença de Carvalho à saída do TCIC, adiantando desde logo que ia recorrer da decisão.

Antes, Salgado não se livrou de duas duras audições de longas horas na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES/GES, onde foi confrontado pelos deputados dos cinco grupos parlamentares com inúmeras perguntas, muitas das quais ficaram sem resposta.

Dono disto tudo durante 20 anos

Para trás, ficaram mais de duas décadas na liderança do BES: Ricardo Salgado assumiu a primeira vez a presidência executiva do BES em 1991, após a reprivatização, iniciando um percurso que levou ao aumento da quota de mercado de 8% para 20% e à internacionalização do BES.

Casado e pai de três filhos, Ricardo Espírito Santo Silva Salgado nasceu a 25 de junho de 1944, em Cascais, mas passou os primeiros anos da sua vida em Lisboa, na Lapa, onde viveu.

Estudou numa escola primária pública e, mais tarde, ingressou no Liceu Pedro Nunes.

Em 1969, licenciou-se no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa e cumpriu o Serviço Militar na Marinha de Guerra Portuguesa, no Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval.

Três anos depois, em 1972, entrou para a equipa do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, primeiro para assumir a direção do Gabinete de Estudos Económicos e mais tarde a Direção de Crédito, onde permaneceu até 1975, aquando da nacionalização do banco.

Tiago Petinga / Lusa

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES

O banqueiro português lançou-se a partir do Brasil, entre 1976 e 1982, na reconstrução do Grupo Espírito Santo, trabalho a que deu seguimento depois na Suíça, de 1982 a 1991.

Após a reprivatização do banco em 1991, Ricardo Salgado chegava então à presidência executiva do BES. Um ano depois era nomeado “Economista do Ano” pela Associação Portuguesa de Economistas e em 2001 “Personalidade do Ano” pela Câmara Portuguesa de Comércio do Brasil.

Em 2002, foi nomeado para o Supervisory Board da Euronext NV, em Amesterdão, e em 2006 participou na fusão da Euronext com o New York Stock Exchange, integrando o conselho como membro não executivo até 2011, tendo ainda sido administrador não executivo do Banco Bradesco (Brasil), de 2003 a 2012.

O antigo homem forte do BES foi membro do conselho superior do GES, vice-presidente do conselho de administração e presidente executivo do banco.

Cargos que acumulou ainda com a presidência do conselho de administração da Espírito Santo Financial Group, SA–Luxemburgo e a presidência do conselho de administração do Banco Espírito Santo de Investimento.

O banqueiro português integrou ainda o conselho de administração da Banque Privée Espírito Santo SA – Lausanne e o conselho de administração de Banque Espírito Santo et de la Vénétie – Paris.

Ao longo da sua vida, foi várias vezes distinguido, tendo sido condecorado “Chevalier de L´Orde du Mérite National de France” em 1994 e recebido o “Grau de Grande Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul”, pelo Presidente da República Federativa do Brasil, em 1998.

Em 2005, foi condecorado “Chevalier de la Légion D´Honneur da República Francesa” e há dois anos, em 2012, “Commander’s Cross Order of Merit da República da Hungria”.

Já há dois anos, em julho de 2013, a Universidade Técnica de Lisboa distingui-o com o doutoramento ‘honoris causa’ por serviços prestados à economia, cultura, ciência e à universidade.

Miguel A. Lopes / Lusa

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES

/Lusa

1 Comment

  1. Grande embuste! O pai do crédito “barato” em julho de 2013 foi distinguido pela Universidade Técnica de Lx.- com o doutoramento ‘honoris causa’ por serviços à economia, cultura, ciência e à universidade…

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