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UE quer avisos contra o cancro no vinho (como no tabaco). Produtores falam de “recuo civilizacional”

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LexnGer / Flickr

O Parlamento Europeu debate e vota, nesta terça-feira, uma proposta da Comissão Especial para a Luta contra o Cancro que defende a inclusão de alertas de saúde nas bebidas alcoólicas, incluindo o vinho, como já acontece com o tabaco. Produtores vinícolas falam de “grave erro estratégico e civilizacional”.

O relatório da Comissão Especial para a Luta contra o Cancro (CELC) conclui que “não há uma quantidade segura de álcool” e que, portanto, qualquer quantidade consumida faz mal à saúde, contribuindo, especificamente, para a possibilidade de se vir a sofrer desta doença.

“Este é um relatório que se foca especificamente no cancro, e quanto maior for o consumo de álcool maior será a probabilidade de vir a ter cancro”, explica ao jornal i a eurodeputada Sara Cerdas, eleita pelo PS e vice-presidente da CELC.

Não há uma dose segura de ingestão de álcool e este consumo, independentemente da dose, é prejudicial para a saúde”, nota a eurodeputada reportando-se para as conclusões do relatório.

Sara Cerdas acrescenta que “os estudos mais recentes referem que na região Europeia cerca de 181.000 ou 4,1% dos novos casos de cancro em 2020, foram atribuídos ao consumo de álcool”.

Assim, a inclusão destes alertas nos rótulos das bebidas será importante para a “literacia em saúde” dos consumidores, pois “capacitam os cidadãos a tomarem decisões mais saudáveis relativamente aos seus estilos de vida”, defende.

Sara Cerdas ainda explica que a CELC não defende o uso de “imagens chocantes”, como acontece nos maços de tabaco, mas que apenas considera importante “a necessidade de advertir os consumidores dos riscos que são hoje conhecidos e que advêm do consumo de álcool” e da “sua relação com o cancro“.

“Uma decadência e um recuo civilizacional”

Este relatório da CELC está a indignar os produtores de vinho, nomeadamente os portugueses, que estão preocupados com a imagem do sector e, consequentemente, com a redução dos lucros.

O presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão, refere à Executive Digest que o documento inclui aspectos que “danificam de forma gravosa a imagem e prestígio do sector vitivinícola a nível nacional e europeu”.

Um dos pontos criticados pelo dirigente da associação que se dedica a promover os vinhos nacionais a nível internacional é o facto de o relatório usar a fórmula “consumo de álcool”. Francisco Falcão defende que devia ser substituída por “consumo abusivo de álcool”.

“A cultura do vinho faz parte dos nossos valores enquanto europeus, é uma bebida inserida na dieta mediterrânica e acreditamos que a aprovação deste Relatório, com a actual redacção, irá danificar todo o trabalho que este sector tem feito ao longo dos últimos anos”, considera ainda Falcão.

Também o produtor de vinho Vasco Croft, mentor do projecto Aphros Wines que assenta no conceito da agricultura biodinâmica, entende que o relatório da CELC “representa uma decadência e um recuo civilizacional“.

É “um verdadeiro atentado contra os valores fundamentais da cultura europeia que o Parlamento Europeu tem como missão defender e preservar”, salienta Croft também em declarações à Executive Digest.

Croft defende que, desde a antiguidade, são reconhecidas “virtudes medicinais” ao vinho, notando que até a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o seu consumo moderado.

“Os benefícios para a saúde incluem a riqueza em antioxidantes, redução de colesterol e excesso de peso, saúde cardíaca, regulação de açúcar no sangue e muitas outras”, aponta Croft.

Aumento de impostos “traria enormes problemas”

Os dois homens também estão preocupados com a possibilidade de este relatório contribuir para um aumento dos impostos sobre o vinho.

“A alteração da carga fiscal sobre um produto tão importante na economia regional do interior do nosso país, traria enormes problemas sociais e económicos“, defende Frederico Falcão.

Croft nota que “o vinho já é taxado, directa e indirectamente de múltiplas formas”.

“Fazer dele uma excepção, sobrecarregando-o com taxas que tenham o objectivo de dificultar e restringir o seu consumo, como se fez (aí justamente) com o tabaco, seria, pelas razões apontadas, um grave erro estratégico e civilizacional“, conclui o produtor da região dos vinhos verdes.

ZAP //

6 Comments

  1. Eh lá… o vinho provoca cancro?! E há estudos?… Tenho que ver isso… deve ser vinho “manhoso”; só pode!…
    É Coca Cola’s, McDonald’s, Burger King’s, e demais “lixo” por todo o lado e ao vinho é que precisa de avisos (mais dos que já existem, como o apelo a consumo com moderação que aparece na publicidade a bebidas acólicas)??
    Enfim…

    • Por acaso, o ar, já é. O ar tem muita poluição. O ar que respiramos está cheio de componentes químicas produzidas pela industria, pelos gases de automóveis e por aí fora. Vão por também um rótulo no ar :-)))

  2. Tem que se beber com moderação. Se bem que a maior parte dos vinhos produzidos hoje em dia tem muita componente química para que se conservem e sabe-se lá que mais.

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