Como deixar Vladimir Putin satisfeito? E o resto da Europa está “muito pior” do que estava há dois anos, no início da guerra.
As ameaças sérias estão de volta. O Kremlin volta a deixar avisos sobre o que vem aí na guerra com a Ucrânia.
Dmitry Medvedev, antigo presidente e primeiro-ministro da Rússia, disse nesta quinta-feira que nem sabe onde a Rússia “vai parar”, para atingir os objectivos nesta “operação militar especial”.
E derrubar o Governo da Ucrânia não é uma hipótese esquecida: “Onde parar? Não sei. Acho que, considerando o que disse [sobre a necessidade de criar um cordão de segurança], teremos que trabalhar muito. Será Kiev? Sim, provavelmente deve ser Kiev também. Se não agora, então daqui a algum tempo, provavelmente durante alguma outra fase do desenvolvimento deste conflito”.
O vice-Presidente do Conselho de Segurança da Rússia reforçou, nesta conferência de imprensa, que considera que Kiev, capital da Ucrânia, é uma cidade da Rússia; além disso, acha que é de Kiev que vem uma ameaça à Rússia.
“Embora Kiev seja uma cidade russa nas suas raízes, é gerida por uma equipa internacional de opositores da Rússia liderada pelos Estados Unidos. Todas as decisões são tomadas do outro lado do oceano e no quartel-general da NATO. Isso é absolutamente óbvio”, alegou.
Ucrânia vai ceder?
Há dois anos, alguns políticos e especialistas ignoraram ameaças deste género. Mas a invasão aconteceu mesmo.
Amanhã, sábado, assinalam-se dois anos do início da guerra na Ucrânia, que começou no dia 24 de Fevereiro de 2022.
Após palavras e movimentações militares, Vladimir Putin deixou acabar os Jogos Olímpicos de Inverno – que decorreram na “amiga” China até ao dia 20 de Fevereiro. Logo a seguir, a Rússia atacou.
Nas primeiras semanas, as forças russas tentaram precisamente controlar Kiev, para derrubar o Governo ucraniano. O presidente Volodymyr Zelenskyy terá escapado a três tentativas de assassinato nessa fase. Em 2023 houve uma contra-ofensiva da Ucrânia, que poucos resultados teve.
Desde cedo, começou a surgir uma pergunta (até entre jornalistas): como deixar Vladimir Putin satisfeito? Dois anos depois, a questão mantém-se.
Claro que há uma decisão de Kiev que poderia originar a palavra “vitória” nos discursos do presidente da Rússia: ceder à Rússia os territórios que os russos já controlam.
Os mapas apresentados pela BBC aqui em cima, do Instituto para o Estudo da Guerra, mostram o crescente controlo da Rússia sobre o território da Ucrânia, ao longo dos últimos dois anos.
Já controlou mais, em Março de 2022; depois a Ucrânia foi recuperando e agora a Rússia controla claramente a zona do Sul/Este do país vizinho.
Há pacifistas e algumas facções políticas de outros países – e até alguns responsáveis do Kremlin – que defendem que não é com mais luta, mais armas e mais munições que se vai acabar a guerra. O melhor seria a Ucrânia admitir que aqueles 18% do seu território passam a ser da Rússia.
Mas Zelenskyy não aceita. Aliás, nem se senta à mesa com responsáveis russos; porque não acredita no Kremlin e porque já avisou que nunca aceitará que essas terras fiquem sob domínio russo.
O Instituto para o Estudo da Guerra deixa outra perspectiva: quais seriam as consequências militares, económicas e financeiras concretas para a segurança e para a viabilidade económica da Ucrânia a longo prazo, se a Ucrânia cedesse? Estaria mesmo em causa a independência do país.
“A avaliação séria desta questão mostra que existem verdadeiras razões militares e económicas para a Ucrânia tentar recuperar todo o território que a Rússia ocupa actualmente e que, em qualquer caso, as actuais linhas não podem servir de base para qualquer solução remotamente aceitável para a Ucrânia ou para o Ocidente“, lê-se na análise publicada no final de 2023.
Ceder “só” a Crimeia (controlada pelos russos desde 2014) ou o Donbas originaria enormes implicações económicas para a Ucrânia. O Donbas é um ponto importante de extracção de minério e da indústria metalúrgica da Ucrânia, por exemplo.
“Não há espaço para negociar”, acrescenta o instituto. Porque recuperar território é vital a nível estratégico e económico para a Ucrânia.
E surge outra hipótese: se a Rússia fica com parte da Ucrânia, vai ficar por ali?
Ajudas externas
Mas o mesmo documento avisa: há dois anos era muito mais fácil para a Ucrânia defender as suas linhas do que agora.
Não só por causa do avanço da Rússia mas porque a ajuda externa não é o que era há dois anos. Chegou a “fadiga da guerra”.
O caso mais falado é o dos EUA. O apoio está a ser cortado e o cenário deve agravar-se muito para a Ucrânia em Novembro, se Donald Trump for eleito.
Mas, mesmo entre os países europeus, já se multiplicam as hesitações. Ainda nesta sexta-feira o Parlamento alemão rejeitou uma moção da oposição para entregar mísseis de cruzeiro Taurus à Ucrânia: o chanceler Olaf Scholz recusa esta ideia porque acha que os mísseis podem ser usados para atacar a Rússia, em solo russo.
Rússia em vantagem
Há várias vantagens para o lado russo neste processo, mesmo que houvesse um cessar-fogo.
Desde logo, poderiam concentrar as próprias forças tão perto da fronteira quanto quisessem; isto surgiria acompanhado por sistemas de defesa aérea, pontes e outros equipamentos de engenharia, artilharia, munições… Um ataque de curto prazo não seria a tarefa mais complicada – e a Ucrânia só poderia reagir quebrando o cessar-fogo.
Os russos podem manter uma parte considerável das suas próprias tropas num estado constante (e caro) de mobilização e prontidão, se assim o desejarem – e Vladimir Putin já mostrou que não se importa de gastar milhões de rublos e de perder milhares de vidas de soldados russos para vencer esta guerra.
E, se a guerra fosse suspensa, a Rússia teria margem ainda maior para avaliar as suas necessidades militares, de defesa, ao seu próprio ritmo – para estar preparada para um novo ataque.
E o resto da Europa?
Manter muitas pessoas sempre mobilizadas impõe um duplo custo ao Estado: por um lado, tem de pagar a cada indivíduo pelos seus serviços e, por outro, perde as contribuições desse indivíduo para a economia.
E a Europa, embora noutra escala, também está a pagar muito por esta guerra.
O major-general Arnaut Moreira não hesita nas palavras: “A Europa está hoje muito pior do que estava no início da guerra”.
Explicando: “Desperdiçámos absolutamente dois anos de preparação para uma guerra. Auxiliámos a Ucrânia mas entregámos as nossas reservas estratégias e nada foi feito para repor essas reservas“.
“Estamos a ficar tão depauperados que, a certa altura, nem temos munições ou equipamentos para dar a Ucrânia, nem equipamentos para nos defendermos. Entregar foi o gesto mais útil, mas era o gesto imediato. Não chega. Em dois anos produzimos o quê?“, pergunta o especialista militar, na rádio Observador.
Arnaut Moreira deixa o aviso: “A Europa continua a pensar que isto vai ficar na Europa. Mas isto vai sobrar para a Europa“.
Guerra na Ucrânia
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Lá está o Dmitry Merdevedev a pôr-se em bicos de pés novamente, a ver se não se esquecem dele. No futuros livros de História há-de aparecer nas notas de rodapé como bobo da corte ou yes-man de Putin, ao contrário de Zelensky. Deve ter um problema de despeito e/ou inveja.
O que é meu é meu,. O que é dos outros a gente divide. Muito simples, mas os Ucranianos foram consultados? Ou melhor, voce dividira parte de sua casa se fosse invadida pelo vizinho?