O Twitter suspendeu uma rede de contas falsas que fingiam pertencer a apoiantes negros do Presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump.
Darren Linvill, professor da Universidade Clemson que estuda desinformação, identificou 31 contas que pareciam estar ligadas a conservadores negros, e outras, incluindo uma que parecia pertencer ao cabeleireiro da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e várias à secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany.
Muitas das contas partilhavam as publicações umas das outras, utilizando, geralmente, uma linguagem idêntica. “Sim, sou preto e voto em Trump. O Twitter suspendeu duas das minhas outras contas por apoiar Trump”, lia-se numa dessas.
“As nossas equipas estão a trabalhar para investigar esta atividade e tomarão medidas de acordo com as regras do Twitter”, disse um porta-voz da empresa. “Atualmente, tomamos medidas em alguns dos ‘tweets’ e contas por violarem as nossas políticas de manipulação de plataforma e ‘spam'”, acrescentou.
As regras de utilização do Twitter proíbem uma série de atividades que a plataforma define como “agressivas ou enganosas”, incluindo o uso de informações de perfil roubadas ou copiadas ou o uso de várias contas para publicar conteúdo idêntico.
Linvill indicou que a rede teve origem na Europa Oriental ou na Turquia. Algumas das contas tinham perfis com escrita cirílica, enquanto outra tinha informações sobre um serviço de acompanhantes turco.
Embora as contas falsas fossem bastante amadoras e não publicassem com frequência, tiveram um alcance considerável num curto período de tempo, referiu Linvill. “Houve um ‘tweet’ que teve 30.000 ‘retweets’, de uma conta que era nova. Havia uma conta que tinha 50.000 seguidores”, contou.
Ao todo, as contas conseguiram obter 250.000 ‘retweets’ ou menções, de acordo com o Washington Post, que primeiro relatou a história.
O amplo alcance dos ‘tweets’ em poucos dias ilustra a rapidez com que informações duvidosas ou falsas podem circular ‘online’, mesmo quando as redes sociais atuam rapidamente para bloquear atores mal-intencionados, indicou Linvill.
Embora essas redes aparentemente originárias da Europa Oriental não sejam novidade, o professor sublinhou que esta em particular recebeu uma atenção invulgar por causa das suas táticas, fingindo que falava pelos conservadores negros dos EUA.
Tal atividade “rouba vozes de americanos reais. Não é representativo do verdadeiro discurso americano e isso é perigoso por muitos motivos”, frisou.
Os eleitores negros têm sido um alvo importante para a campanha de reeleição de Trump. A primeira aparição pública do Presidente após a sua recuperação do covid-19 foi dirigida num comício da Fundação Blexit, de Candace Owens, que incentiva os negros americanos a se separarem do partido democrata.
Linvill exortou os utilizadores da rede social a estarem vigilantes e a serem cautelosos com estranhos, mesmo aqueles que parecem ter as mesmas opiniões políticas. “As regras do mundo digital não são diferentes das regras do mundo real”, afirmou. “A desinformação nas redes sociais só se espalha se a espalharmos”, apontou.