Ao longo dos próximos anos, as viagens de avião vão ficar cada vez mais “atribuladas” devido ao aquecimento global, um fenómeno que não só aquece a superfície terrestre como está a alterar os ventos atmosféricos à altitude a que os aviões circulam.
Segundo informou o Observador, dessa forma, a turbulência está a tornar-se cada vez mais comum e os sinais vermelhos que nos obrigam a apertar os cintos de segurança podem começar a piscar com mais frequência.
De acordo com o Telegraph, a turbulência aérea é a principal causa de ferimentos em passageiros durante viagens de avião. Ao mesmo tempo, é também um dos fatores que mais nervosismo causa em quem teme viagens aéreas.
“As alterações climáticas estão a tornar a atmosfera mais vulnerável à instabilidade que cria turbulência”, explicou Paul Williams, da Universidade do Centro Nacional de Ciência Atmosférica de Reading. A turbulência, explicou, pode mesmo triplicar nos próximos tempos com o aumento dos níveis de dióxido de carbono.
Este ar é mais forte que a gravidade. E é por isso que a turbulência é perigosa nos aviões: “Os movimentos verticais ocorrem mais rapidamente que a gravidade. Se não tivermos o cinto apertado ou se qualquer objeto não estiver preso, vai ser catapultado”, destacou.
O artigo do Observador indica que a turbulência ocorre da seguinte forma: “Imaginemos um rio que se prolonga por milhares de quilómetros. Um rio estreito mas pouco profundo, onde a água circula a uma velocidade estonteante. Se água de outros rios penetra este circuito, vai haver uma mistura de forças e o rio vai agitar-se. É isto que se passa nos canais de ar. E assim “nasce” a turbulência aérea. Quanto maior a mistura de ar, maior será o nível de agitação”.
Existem três níveis de turbulência: leve, moderada e severa. O terceiro e mais grave é também o mais raro e muito pouco frequente. Na sexta-feira, um avião da Air Canada foi obrigado a mudar de rota depois de turbulência “severa e inesperada” ter atingido o aparelho. O fenómeno durou alguns segundos, mas feriu 35 passageiros. Dois dias antes um voo da Emirates foi atingido por turbulência severa três horas antes de aterrar.
O piloto norte-americano Patrick Smith admitiu que “os céus estão a tornar-se mais turbulentos” e também apontou o dedo às alterações climáticas. Mas, ao mesmo tempo, frisou que a comunicação social também é responsável por causar algum “alarme social”. Destacou a facilidade com que se partilham “vídeos assustadores” e o facto de existirem, hoje, mais aviões a circular do que nunca.
“É óbvio que, à medida que o aquecimento global perturba os padrões meteorológicos e intensifica tempestades, a turbulência severa vai tornar-se cada vez mais comum”, referiu.
É muito pouco o que os pilotos podem fazer para evitar esta perturbação do ar, lê-se no Observador. Podem ajustar ou alterar a rota do voo e guiar-se por relatos de outros aviões. Mas a turbulência é invisível, imprevisível e indetetável no radar. Os passageiros também podem fazer muito pouco: apertar o cinto de segurança e manter a calma.
Apesar do “alarme social”, Patrick Smith frisou que nem sempre a turbulência é perigosa. “Os aviões estão desenhados para aguentar com uma grande quantidade de danos. O nível de turbulência necessário para causar estragos no motor ou dobrar uma asa é algo que nenhum piloto vai experienciar numa vida inteira a viajar de avião”, afirmou.
Os ferimentos dos passageiros são causados quando os tripulantes não estão a usar o cinto de segurança, indicou o piloto norte-americano.