Truss (já) de saída? Tories ameaçam rebelião e acusam-na de destruir o legado do partido

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As sondagens pouco animadoras e a crise gerada pelo mini-orçamento têm deixado os deputados Conservadores apreensivos e há já quem questione a continuidade de Liz Truss como primeira-ministra.

Parece que não período de lua-de-mel para o novo Governo britânico. Há apenas algumas semanas no poder, o executivo já está a ver a sua continuidade a ser questionada. O tema chegou ontem à Câmara dos Comuns, com os deputados a debaterem uma petição com 575 mil assinaturas que exige eleições antecipadas.

A petição foi lançada em Julho, pouco depois do anúncio da demissão de Boris Johnson e arrecadou 575 mil assinaturas no período desde então. Qualquer petição com mais de 100 mil assinaturas tem que ser debatida no Parlamento.

O deputado Trabalhista Matt Western confrontou Liz Truss com a vontade popular e considera que a lua-de-mel com a população foi inexistente. “Depois de cinco semanas de uma crise concebida em Downing Street e o caos financeiro completo, o país quer o divórcio. Em duas sondagens recentes, 60% quer eleições antecipadas. A primeira-ministra diz que está a ouvir a população. Vai ceder?”, questionou.

“Acho que eleições são a última coisa de que precisamos agora”, respondeu Truss.

Kei Starmer, líder dos Trabalhistas, também não poupou nas críticas à primeira-ministra, descrevendo o seu mini-orçamento como um “orçamento kamikaze” e acusando-a de entrar numa “onda de empréstimos” para financiar os cortes nos impostos previstos nas medidas.

Sobre isto, Truss garante que o seu Governo deu “respostas decisivas” para evitar que as facturas energéticas subissem acima das seis mil libras e que está a “gastar o dinheiro público de forma acertada”.

Conservadores pressionam Truss

Estas primeiras semanas atribuladas estão a deixar Liz Truss à beira de ser mais uma vítima de uma rebelião dentro do próprio partido que há pouco tempo a elegeu.

O infame mini-orçamento foi o culpado por todo este rebuliço. As propostas previam um corte de impostos que beneficiaria maioritariamente os mais ricos graças à abolição da taxa máxima de 45% de IRS — e a medida foi tão contestada que foi rapidamente revertida pelo Governo.

Para além da sua impopularidade com os britânicos, o mini-orçamento também causou um terramoto nos mercados visto que o Governo previa recorrer a empréstimos para colmatar o rombo nas contas públicas causado pelos cortes de impostos. Os receios do aumento da dívida deixaram os investidores apreensivos e levaram a uma subida nas taxas de juro e causaram o colapso da libra.

As justificações de Truss no Parlamento não serviram para acalmar os mercados, com o preço dos títulos britânicos a 20 anos a atingirem um novo mínimo após o anúncio do Banco de Inglaterra de que o seu pacote de apoio no valor de 65 mil milhões de libras vai chegar ao fim esta sexta-feira.

Agora, os próprios deputados Conservadores estão a virar-se contra Truss e a pressioná-la para reverter a reforma fiscal na totalidade, acusando-a de arruinar os valores partidários e de manchar o legado do partido nos últimos 10 anos.

Os responsáveis partidários estão preocupados com o rumo das sondagens e descreveram a prestação de Truss como “simplesmente terrível” numa reunião do Comité de 1922.

À saída, um deputado disse que a atmosfera era como um “funeral” e outro disse acusou a primeira-ministra de fazer “absolutamente nada para dar garantias aos seus colegas”, cita o The Guardian.

Mel Stride, presidente do comité do Tesouro, disse ontem que o Ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, deve abandonar todos os cortes de impostos planeados. “Dados os enormes desafios, há muitos, eu incluído, que acreditam que é possível que ele simplesmente tenha de anunciar um recuo na reforma fiscal anunciada a 23 de Setembro”, declarou.

O Instituto de Estudos Fiscais também publicou um relatório esta semana que revelou que Truss só seria capaz de manter os seus cortes de impostos e reduzir o défice se cortasse a despesa pública em 60 mil milhões até 2026-2027 — o que não vai ao encontro dos planos da primeira-ministra.

O pânico dentro do partido é tanto que há até deputados a ponderar apoiar a convocação de eleições antecipadas só para passarem a batata quente da crise e da inflação aos Trabalhistas, que estão com uma enorme vantagem nas sondagens e provavelmente seriam os vencedores, avança o Daily Mail.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly, já fez um apelo aos Tories para que não avancem com mais um regicídio. “Temos de reconhecer que temos de dar segurança aos mercados. Acho que mudar a liderança seria uma desastrosa e má ideia politicamente e também economicamente. Temos de nos focar em fazer a economia crescer”, pediu.

Até agora, Downing Street tem negado estar a ponderar reverter todos os cortes de impostos. A decisão final sobre só deve ser conhecida a 30 de Outubro.

Trabalhistas à frente em bastiões dos Tories

As preocupações dos deputados Conservadores estão longe de ser meras paranóias. As sondagens apontam para uma vantagem cada vez maior dos Trabalhistas, até mesmo em bastiões históricos dos Tories.

Uma nova sondagem dá uma vantagem de 21 pontos ao partido de Keir Starmer em 42 círculos eleitorais no sul do país, uma região conhecida como “muralha azul” por estar tradicionalmente nas mãos dos Conservadores.

Em 2019, os Trabalhistas conseguiram apenas 21% dos votos e ficaram 29 pontos atrás dos Tories, que venceram com 50% do voto, tendo os Liberais-Democratas ficado em segundo lugar, lembra o The Independent.

Actualmente, os dados indicam que os Conservadores conseguiriam apenas 28% dos votos, uma quebra de 22 pontos. Já os Trabalhistas conquistariam 41% do eleitorado, uma subida de 20%, e os Liberais-Democratas também ficam a morder os calcanhares aos Tories, alcançando 24% das intenções de voto.

Sobre a prestação do Governo, 52% dos inquiridos — incluindo 49% de quem votou nos Conservadores em 2019 — desaprovam o trabalho de Liz Truss, com apenas 17% a dar uma nota positiva.

A nível nacional, os Trabalhistas já têm uma vantagem de mais de 20 pontos ou até de 30, dependendo das sondagens.

Adriana Peixoto, ZAP //

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