Portugal passou a ter “trufas melhores do que Itália” com a descoberta “fantástica” que abre portas ao cultivo e comercialização em território nacional. Da gastronomia à medicina, conheça a trufa de verão.
A Universidade de Évora e o chef de cozinha Tanka Sapkota anunciaram esta terça-feira a descoberta, pela primeira vez em Portugal, de trufa de verão, uma iguaria gastronómica resultante da reprodução de fungos que tem também propriedades medicinais.
“É a primeira descoberta de trufa de verão em Portugal, é uma descoberta fantástica, porque sabemos, pela primeira vez, que é possível cultivá-la no nosso país”, explicou a investigadora da Universidade de Évora Celeste Santos e Silva.
A Universidade de Évora e o chef Tanka Sapkota trabalham em parceria desde há dois anos na procura de trufa em Portugal. Com esta descoberta, o chef de cozinha não tem dúvidas de que Portugal passou a ter “trufas melhores do que Itália”.
“Várias pessoas mandaram-nos várias amostras, mas nenhuma era de trufa” até ao dia 26 de abril, quando receberam mais uma amostra oriunda dos concelhos de Alenquer e Sobral de Monte Agraço, no distrito de Lisboa, e os investigadores provaram o que há muito ambicionavam encontrar.
Segundo a bióloga, esta espécie de trufa era conhecida em França e Itália e cultivada em Espanha, mas “não havia quaisquer registos da sua existência” em Portugal.
Da gastronomia à medicina. O que é a trufa de verão?
A trufa de verão, conhecida cientificamente como Tuber aestivum, é um fungo que se desenvolve em simbiose com as raízes de algumas árvores, como carvalhos e castanheiros. Aparece sobretudo em terrenos calcários e argilosos e onde existam condições de pluviosidade e sombreamento de outro tipo de vegetação.
Embora seja menos aromática e saborosa comparativamente à trufa branca ou à trufa negra de inverno, o seu sabor e aroma únicos — além da raridade — acrescentam-lhe valor em termos gastronómicos. São frequentemente adicionadas a massas, risotos ou pratos de ovos. Para conservá-las, recomenda-se mantê-las no frigorífico envoltas em papel de cozinha e dentro de um recipiente hermético.
A época de colheita das trufas de verão estende-se de maio a setembro. São geralmente mais acessíveis que outras variedades de trufas devido à sua maior abundância e período de colheita mais longo.
Se por fora variam entre um castanho claro e quase preto, no interior apresentam uma textura marmoreada com veios claros e escuros.
Além de ser uma iguaria usada na gastronomia, tem também propriedades medicinais por ser anti-inflamatória, promover o bem-estar do organismo e estimular o sistema imunitário.
Descoberta abre portas à comercialização
Uma vez que esta espécie de trufa era até agora importada e um quilograma chega a custar 100 euros, a investigadora esclareceu que a descoberta “abre várias possibilidades de mercado a nível mundial tanto do ponto de vista do cultivo, como da sua comercialização”.
“Trabalho há 20 anos nesta área da macromicologia e tenho vários proprietários interessados em cultivá-la em complemento a outras culturas, uma vez que a sua produção pode demorar entre 13 e 15 anos”, afirmou Celeste Santos e Silva.
“Só hoje apanhámos um quilograma [na visita de campo para a comunicação social] e temos um senhor que apanhou seis quilogramas numa manhã por haver vários locais e haver em boa quantidade, logo o potencial é grande“, disse o chef Tanka Sapkota.
Tanka Sapkota conheceu a trufa em 1992 em restaurantes em Itália e, em 2007, começou a utilizar a iguaria nos pratos que confeciona nos seus restaurantes em Lisboa, com o objetivo de “democratizar a trufa” que tem vindo a importar.
Nos seus três restaurantes da capital, consome uma média de sete quilogramas por semana. Por isso, há dois anos lançou o desafio às universidades para descobrirem trufa em território nacional.
ZAP // Lusa