As tropas russas estão a usar munições ocidentais contra a Ucrânia

Yuri Kochetkov / EPA

Há declarações de empresas russas disponíveis na internet que mostram que têm na sua posse armamento de empresas americanas, alemãs, finlandesas e turcas.

O exército russo está a ser armado por empresas de armamento americanas. De acordo com arquivos obtidos pelo Politico, as firmas russas Promtekhnologiya e Tetis já compraram centenas de milhares de munições produzidas pela norte-americana Hornady.

A falta de armamento sentida pelos russos — e até admitida publicamente pelo próprio Vladimir Putin — está a fazer disparar o mercado negro de munições ocidentais, mesmo no meio da enxurrada de sanções impostas a Moscovo.

Há informações online sobre fornecedores, descrições dos produtos e acordos de compra que podem ser consultadas por qualquer pessoa com acesso à internet russa. Por exemplo, numa declaração de conformidade arquivada pelo Governo russo datada de 12 de Agosto de 2022, a Promtekhnologiya avança que vai receber um lote de 102 200 munições de chumbo da Hornady.

São também frequentes anúncios no Telegram de vendedores de armamento americano. Há ainda declarações de empresas russas referentes a munições produzidas na Alemanha, Finlândia e Turquia.

A empresa nega estar a vender armamento à Rússia. “No instante em que a Rússia invadiu a Ucrânia, nós cortamos relações. Negamos categoricamente estar a exportar para a Rússia e não temos uma licença para exportar para a Rússia desde 2014. Não apoiamos a venda do nosso produto a nenhum filho da mãe russo e se soubermos como o conseguem, vamos adoptar todos os passos possíveis para o impedir”, afirma Steve Hornady, CEO da empresa, ao Politico.

O executivo adianta ainda que contactou as autoridades norte-americanas depois de descobrir que as armas da Hornady estão a ser usadas pelos russos. Steve Hordany frisa que os seus clientes têm de ter autorização do Departamento de Comércio para revender produtos fabricados nos Estados Unidos. “Pelo que sabemos, nenhum dos nossos clientes viola essa lei”, acrescenta.

A Promtekhnologiya também nega ter pedido declarações para importar munições e rejeita ter qualquer relação com a Hornady. Mesmo assim, o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, garante que os seus mecernários usam uma “quantidade enorme de munições feitas pela NATO deixadas pelo exército ucraniano“, pedindo ainda ironicamente ajuda na busca por mais armamento americano.

As violações às sanções dos Estados Unidos podem ser punidas com multas de até um milhão de dólares por cada violação ou com penas de prisão que podem chegar aos 20 anos.

No entanto, há uma lacuna que pode ser aproveitada — descrever munições de nível militar como se fossem para uso desportivo ou para caça, como é o caso na documentação da Promtekhnologiya.

“Estritamente falando, as sanções não devem visar nada civil para evitar danos colaterais humanitários. Mas os alvos em países autoritários exploram isto”, explica a analista de Defesa Maria Shagina.

Washington está atento à situação. “Levamos a sério qualquer alegação de violação às sanções e estamos comprometidos a assegurar que as sanções são totalmente aplicadas”, refere um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

Adriana Peixoto, ZAP //

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