Tropas russas capturam a maior central nuclear da Europa

Zaporizhzhya NPP / Reuters

Confrontos na central nuclear de Zaporizhzhia

Autoridades ucranianas confirmam tomada russa da central de Zaporizhzhia. Regulador diz que, apesar dos ataques e de um incêndio, não foram registadas fugas ou alterações nos níveis de radiação da infraestrutura.

Militares e civis ucranianos montaram um cerco em redor da central nuclear de Zaporizhzhia, perto da cidade de Energodar, nas margens do rio Dniepre, e resistiram como puderam, segundo noticia o Público.

Mas, ao fim de vários dias de combates e já depois de um ataque do invasor ter causado um incêndio na infraestrutura, a maior central nuclear da Europa caiu nesta sexta feira de manhã para as mãos das tropas russas.

A confirmação foi dada pelas autoridades regionais ucranianas, através de uma mensagem publicada no Facebook, citada pela Reuters: “[A central] foi capturada por forças militares da Federação Russa. O pessoal operacional está a monitorizar o estado dos reatores nucleares“.

A central nuclear de Zaporizhzhia é responsável por cerca de um quarto da produção energética da Ucrânia.

Apesar dos bombardeamentos russos e do enorme incêndio que deflagrou nas últimas horas num dos edifícios da central, o SINR, autoridade reguladora da energia nuclear da Ucrânia, informou que, por enquanto, não foram identificadas fugas ou alterações nos níveis de radiação em Zaporizhzhia.

O incêndio deflagrou na central nuclear de Zaporizhzhia, durante a madrugada de sexta feira, e depois da aproximação de tropas russas.

O fogo fez temer um desastre, mas a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o órgão de vigilância das Nações Unidas, disse que o regulador ucraniano não reportou qualquer alteração nos níveis de radioatividade na central.

O fogo “não afetou equipamentos essenciais” e o pessoal da central está a tomar medidas de mitigação, divulgou a AIEA, no Twitter, às 2h25, depois de receber informações do regulador ucraniano.

A informação foi confirmada por ​Andriy Tuz, porta-voz da central que dizia que não havia perigo de fugas de radiação.

“Exigimos que parem os disparos com armas pesadas. Há uma ameaça real de perigo nuclear na maior central da Europa“, apelou, notando que os bombeiros estavam a ter dificuldades em chegar ao incêndio, por causa dos combates.

Horas antes, o diretor da AIEA, Rafael Grossi, tinha pedido às tropas russas junto da central um cessar-fogo e para se absterem de violência.

Mas a situação parece ter-se deteriorado e por volta da meia-noite chegou um alerta do presidente da câmara de Enerhodar, a cidade vizinha da central nuclear, dando conta de que havia um incêndio na central, numa publicação no serviço de mensagens encriptadas Telegram.

“Como resultado do contínuo bombardeamento de edifícios e unidades da maior central nuclear da Europa, a central nuclear de Zaporizhzhia está a arder”, escreveu Orlov no seu canal Telegram descrevendo a situação como uma “ameaça à segurança global”.

O Serviço Estatal de Emergências da Ucrânia informou, mais tarde, que o fogo atingiu um edifício de formação e um laboratório, “fora da central nuclear”.

Numa mensagem colocada na plataforma Telegram, o serviço acrescentou que o sistema de energia da uma das unidades da central foi desligado como prevenção.

“Alertamos todo o mundo para o facto de que nenhum outro país além da Rússia alguma vez disparou contra centrais nucleares. Esta é a primeira vez na nossa história, a primeira vez na história da Humanidade. Este Estado terrorista recorreu agora ao terror nuclear”, afirmou Volodimir Zelensky, num vídeo difundido pela presidência ucraniana.

Zelensky falou também com o Presidente norte-americano, Joe Biden, que apelou também a que a Rússia pare toda a atividade militar na área, para que os serviços de emergência possam aceder ao local.

“Os sistemas e os elementos, importantes para a segurança da central de energia nuclear, estão a funcionar em condições. Até ao momento, não foram registadas mudanças no estado de radiação”, informou o SINR, citado pela Sky News.

Durante o ataque e antes da captura russa, Volodimir Zelensky, Presidente da Ucrânia, tinha apelado aos países europeus para ajudarem o Exército ucraniano na defesa da central de Zaporizhzhia e acusado a Rússia de recorrer ao “terror nuclear” e de “querer repetir” a catástrofe de Chernobyl.

Ucranianos estavam a fabricar bomba atómica

De acordo com a LUSA, o chefe do Serviço de Informações Externas da Rússia afirmou que o Ocidente quer impor um bloqueio económico, informativo e humanitário à Rússia, com o objetivo de destruir o país.

O chefe do Serviço de Informações Externas (FSB, que sucedeu ao KGB) da Rússia, Sergey Naryshkin, denunciou esta quinta-feira que a Ucrânia estava a trabalhar no fabrico de uma bomba atómica.

“De acordo com os dados do Ministério da Defesa da Rússia, a Ucrânia conservou (desde a União Soviética) o potencial técnico para criar armas nucleares e é mais capaz de o fazer do que o Irão ou a Coreia do Norte. Além disso, de acordo com os dados do FSB, a Ucrânia estava a trabalhar nessa direção”, afirmou em comunicado.

Segundo Naryshkin, não era só a Rússia que estava ciente disso, mas também os Estados Unidos.

“Contudo, não só não colocaram quaisquer obstáculos a estes planos, como estavam prontos a dar um impulso aos ucranianos, esperando que os mísseis ucranianos com ogivas nucleares fossem apontados não para o Ocidente, mas para o Oriente”, denunciou ainda Naryshkin.

“A máscara foi removida. O Ocidente está só a cercar a Rússia com uma nova ‘cortina de ferro’. Trata-se de tentar destruir o nosso Estado, um ‘cancelamento’ [do Estado], como estão agora habituados a dizer os meios de comunicação liberais-fascistas tolerantes”, acrescentou.

Naryshkin apontou que “uma vez que nem os Estados Unidos, nem os seus aliados têm a coragem de tentar fazê-lo abertamente e num confronto político-militar honesto, estão a tentar impor de forma vil um bloqueio económico, informativo e humanitário”.

“O mais repulsivo é que tudo isto está a ser feito sob ‘slogans’ enganadores sobre a necessidade de proteger a soberania da Ucrânia e a segurança europeia”, alerta.

Algo que os políticos e especialistas ocidentais definem como “uma nova Guerra Fria”, mas que, na opinião da Rússia, “já é uma guerra bastante quente“, concluiu Sergey Naryshkin.

ZAP //

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