Três meses depois: Netanyahu (aproveitou) e faz da guerra a sua principal arma política

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World Economic Forum / Flickr

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

Após o ataque do Hamas a 7 de outubro contra Israel, pareciam contados os dias do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – dada a devastação e falhas de segurança expostas – ma,s três meses depois, tornou o poder na sua principal arma política. O que mudou a 7 de outubro?

Benjamin Netanyahu tem usado cada vez mais a sua posição de líder em tempo de guerra para testar ‘slogans’ de campanha, apaziguar os parceiros de coligação e fugir à responsabilidade pela calamidade.

Isto tudo, dizem os críticos, com o objetivo de ganhar tempo e aumentar as intenções de voto que se refletem nas sondagens.

“Em todos os momentos da sua vida, ele foi e é um político. Bibi [tal como é conhecido localmente] pensa sempre que tem uma hipótese“, afirmou Mazal Mualem, um biógrafo do líder israelita.

Netanyahu, que está há mais tempo no poder do que qualquer outro líder do país (17 anos), encontrou uma fórmula de sucesso: apela à sua base nacionalista, elabora uma mensagem política cativante e coloca os rivais e adversários uns contra os outros.

Manteve esse instinto de sobrevivência política mesmo durante o ataque mais mortífero da história do país, pelo qual muitos israelitas o responsabilizam.

Em que pensa Netanyahu?

Os críticos afirmam que a sua aspiração à redenção política está a toldar a sua tomada de decisões em tempo de guerra e a dividir uma nação que luta pela unidade.

“Já não é no bem do país que Netanyahu está a pensar, mas na sua própria salvação política e legal“, escreveu o comentador militar Amos Harel, no diário liberal Haaretz.

Outros críticos afirmam que Netanyahu tem interesse em arrastar a guerra para recuperar o apoio da opinião pública através de êxitos militares, como a eliminação do segundo comandante do Hamas em Beirute, ou na esperança de que o tempo lhe seja favorável, uma vez que o país ainda está a sofrer com o ataque do movimento islamita palestiniano.

Os apoiantes dizem que Netanyahu, porém, tem sido injustamente demonizado e que o envolvimento na política, mesmo no meio da guerra, é inevitável.

Netanyahu há muito que polariza

No período que antecedeu a guerra, os israelitas suportaram anos de turbulência política, enfrentando cinco eleições em quatro anos, cada uma delas um referendo sobre a aptidão de Netanyahu para exercer o cargo enquanto estava a ser julgado por corrupção.

Netanyahu utilizou o seu gabinete para combater as acusações que o poderiam levar à prisão, transformando-o num púlpito para reunir apoiantes e atacar os procuradores e os juízes.

Antigos aliados políticos viraram-se contra o líder de longa data. Incapaz de formar um governo de coligação, Netanyahu foi destituído durante um ano. Quando regressou ao cargo, no final de 2022, reuniu a coligação mais nacionalista e religiosa de sempre do país.

O primeiro passo dessa coligação foi lançar um controverso plano de reforma legal que provocou meses de protestos de rua em massa e dividiu o país.

Muitos reservistas, que constituem a espinha dorsal das forças armadas israelitas, disseram que não se apresentariam ao serviço enquanto o governo prosseguisse com as alterações legais. As altas patentes do sistema de segurança, incluindo o Ministro da Defesa do país, avisaram que as divisões semeadas pelo plano eram prejudiciais à segurança.

O que mudou a 7 de outubro?

Os atentados de 7 de outubro, em que o Hamas matou 1.200 pessoas e raptou outras 240, apanharam Israel no seu ponto mais dividido.

Enquanto os israelitas se mobilizaram rapidamente para apoiar os militares, Netanyahu e o seu partido Likud sofreram um golpe nas sondagens, que mostraram que a população acredita agora que o primeiro-ministro é menos apto para governar do que Benny Gantz, um rival que concordou em se lhe juntar num gabinete de guerra. As sondagens também mostram que a coligação de Netanyahu não ganharia a reeleição.

Enquanto a guerra se desenrola, Netanyahu recusa-se a discutir o seu futuro político e repreende os jornalistas que lhe fazem perguntas sobre o assunto.

“Estou estupefacto. Estou simplesmente estupefacto. Os nossos soldados estão a combater em Gaza. Os nossos soldados estão a morrer em combate. As famílias dos reféns estão a viver um enorme pesadelo e é isto que faz? Haverá um tempo para a política”, disse em resposta a uma pergunta sobre o seu apoio público.

No entanto, os críticos dizem que Netanyahu está cada vez mais envolvido em política. Enquanto uma longa lista de oficiais de segurança assumiu a responsabilidade pelos fracassos em torno do 7 de outubro, Netanyahu não o fez, dizendo apenas que tem perguntas difíceis para responder quando a guerra acabar.

Sem assumir publicamente a responsabilidade por qualquer papel nos fracassos de 7 de outubro, a tomada de posição firme contra o papel da Autoridade Palestiniana em Gaza distingue-o do rival Gantz, que ainda não disse se concordaria com a sua inclusão, disse Bushinsky.

Avraham Diskin, um veterano analista político que serviu como conselheiro informal de Netanyahu, disse que o primeiro-ministro estava simplesmente a responder a uma campanha virulenta dos opositores que se intensificou durante a guerra: “É ele que está a fazer campanha ou são eles?”

// Lusa

1 Comment

  1. Os judeus sofreram com a 2 guerra mas agora parece que os judeus (Israel) está a fazer precisamente o mesmo os palestinos. Os nazis usaram os campos de concentração e Israel agora usa as armas para cometer um genocídio sobre o povo palestiniano.
    Com o mote Hamas está a matar um povo pois mata crianças e mulheres indiscriminadamente e muita da comunidade geral dá apoio a Israel e quando não o dá simplesmente ignora o que está a acontecer.
    Só espero que com esta atitude atrós Israel e o seus aliados não tragam para o mundo uma nova guerra mundial ou uma eventual guerra naquela zona do médio oriente envolvendo países como o irão e o Líbano que certamente não terão remorsos em usar armas de destruição massiva…

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