“Tratados como animais”. 90 palestinianos libertados por Israel “saíram do Inferno”

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Alaa Badarneh / EPA

Reféns palestinianos foram transportados em autocarros e recebidos com festejos

Violados, sem comida e torturados. Reféns palestinianos libertados no cessar-fogo com Israel descrevem cenários de terror. Ainda faltam libertar centenas.

“Liberdade! liberdade! Costumávamos ver o céu através de pequenos quadrados. Eu costumava dizer que esperava um dia ver o céu sem esses quadrados”, diz Rose Khwais, de 18 anos, citada pela CNN.

“Saí do inferno e agora estou no céu”, diz outro recluso libertado, Abdelaziz Atawneh.

Cerca de 90 prisioneiros palestinianos forma libertados este domingo, a maioria mulheres e adolescentes, em consequência do cessar fogo que entrou em vigor no fim de semana. Em troca, o Hamas libertou 3 reféns israelitas.

O acordo prevê a libertação de quase 2 mil reféns por parte das forças Israelitas, e 33 reféns do grupo terrorista palestiniano.

Rose conta que os prisioneiros, libertados após meses de reclusão, eram tratados “como animais”, e “saíam das celas como galinhas, e depois eram devolvidos às celas”.

“Não nos trataram bem, não havia boa comida, não havia tratamento médico. Eu tinha sintomas de um AVC, líquido à volta do coração e também problemas de tensão arterial. Não tinha medo das doenças, estava preocupada com o facto de a minha família saber que fiquei doente”, conta a adolescente.

Costumavam violar-nos, bater-nos, disparar gás lacrimogéneo contra nós. Costumavam contar-nos com as nossas cabeças no chão. De repente, entravam nas celas e disparavam gás contra nós. Dizem-nos palavrões. Não há comida, nem doces, nem sal. Não há nada”, descreve Atawneh.

“Sinto-me como se tivesse finalmente encontrado água para beber, depois de ter estado perdida no deserto durante 15 meses“, disse Aya, que disse à Reuters que esteve deslocada da sua casa na cidade de Gaza durante mais de um ano.

De acordo com o The Guardian, as forças israelitas, durante o momento da libertação, tentaram em vão impedir “manifestações públicas de alegria”. Não conseguiram: centenas de pessoas choravam e aplaudiam a libertação das dezenas de reféns.

“Estou muito feliz! Graças a Deus que estou cá fora. Trataram-me muito mal na prisão. Foi horrível”, diz a jovem de 24 anos Shatha Jarabaa, que foi detida por causa de uma publicação nas redes sociais que criticava a “brutalidade” das forças israelitas.

Ahmad Khsha, de 18 anos, foi detido em janeiro de 2024 em Jenin. “Prenderam-me porque o meu irmão morreu durante um tiroteio em Jenin. Depois de ele ter morrido, prenderam-me. No sábado, antes de nos libertarem, fizeram uma rusga às nossas celas e atiraram-nos gás lacrimogéneo. Torturaram-nos na cela, todos os dias. Também torturaram e maltrataram as mulheres”, conta.

Osama Shadeh espera a libertação da sua filha Aseel, de 17 anos, e explica que é difícil descrever a emoção que estamos a sentir neste momento”.

“A minha filha foi detida em 7 de novembro de 2024 quando protestava contra a morte de crianças palestinianas em Gaza. Agitava uma bandeira palestiniana. Os soldados israelitas deram-lhe um tiro no pé e algemaram-na. Acusaram-na de tentar esfaquear os soldados. O facto de estar a ser libertada agora significa que Israel sabia que a minha filha não tinha feito nada de errado. No entanto, mantiveram uma menor de idade na prisão durante mais de um ano”, conta o pai de Aseel.

“Estamos a sofrer, a sofrer profundamente e é altura de nos abraçarmos e chorarmos”, disse à Reuters o habitante de Gaza Ahmed Abu Ayham, de 40 anos, que aponta que o conflito está longe de ser resolvido, e no que toca a perdas e destruição na faixa de Gaza, não há motivos para festejos.

Quase todos os habitantes de Gaza ficaram sem casa ao longo dos 15 meses que se passaram desde os ataques de 7 de outubro. Imagens satélite gravadas no domingo por diversos canais internacionais mostram milhares de palestinianos a regressar a casa, rodeados de destroços. A maior parte volta apenas para ver destruição.

O comité da Cruz Vermelha responsável por monitorizar a libertação dos reféns relatou esrta segunda feira à CNN os desafios “complexos” que tem enfrentado durante o processo:  “durante as transferências, foi difícil lidar com grandes multidões e emoções exacerbadas e, em Gaza, as equipas do CICV tiveram de gerir os perigos colocados por engenhos por explodir e infra-estruturas destruídas”.

ZAP //

1 Comment

  1. E as reféns israelitas? Foram bem tratadas?

    Menos propaganda e mais objetividade no tratamento destes temas fracturantes para ambos os lados…

    Editar – 

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