No virar do século XIX, na Grã-Bretanha, traças de todo o país começaram a ficar gradualmente mais escuras em resposta à forte poluição provocada pela Revolução Industrial.
A Revolução Industrial foi um período de grandes transformações económicas e sociais na Inglaterra do século XVIII e XIX, mas que também ficou marcado por uma forte poluição que fez com que, para além dos céus, também as traças escurecessem — um efeito chamado “melanismo industrial”.
Mas essa mudança foi motivada por características genéticas semelhantes ou algo muito maior? Segundo o IFLSience, investigadores da Universidade de Liverpool acreditam agora ter a resposta.
A teoria da convergência evolutiva defende que diferentes espécies evoluem independentemente sob pressões de seleção semelhantes, mas os cientistas queriam saber se diferentes espécies de traças que exibiam essas mudanças semelhantes dependiam do mesmo gene para se adaptar.
“Embora muitas pessoas tenham ouvido falar sobre o melanismo industrial na britânica Biston betularia, não é amplamente reconhecido que as formas escuras aumentaram em mais de cem outras espécies de traças durante o período de poluição industrial”, afirma num comunicado da universidade o professor de Genética Ecológica Ilik Saccheri.
“Isso levanta a questão que é se confiaram no mesmo ou similar mecanismo genético para conseguir essa mudança de cor. Esta não foi uma conclusão precipitada porque o melanismo nos insetos pode ser influenciado por muitos genes diferentes”, acrescenta.
No estudo publicado na revista científica Biology Letters, pode ler-se que os cientistas sequenciaram o genoma de duas espécies de traça — Phigalia pilosaria e a Odontopera bidentata — e compararam-no com as informações existentes sobre o melanismo industrial observado na Biston betularia.
Os investigadores descobriram que as três espécies usaram o mesmo gene para ganharem uma cor mais escura ao longo do tempo. No entanto, as duas últimas provavelmente fizeram-no muito mais cedo do que a Biston betularia no início de 1800 e podem até anteceder a revolução industrial por vários séculos.
Embora os genes mais escuros pareçam alelos muito mais antigos, poderiam ter-se espalhado numa escala muito maior durante a Revolução Industrial. As traças mais escuras teriam maior probabilidade de escapar a possíveis predadores, portanto estarem também melhor equipadas para transmitir os seus genes. A mutação para o melanismo ocorreu na mesma região genética nas três espécies.
“As nossas conclusões implicam que essas formas escuras podem persistir em baixas frequências em ambientes não poluídos e dar mais apoio à ideia de que a evolução adaptativa faz uso repetido do mesmo mecanismo genético e de desenvolvimento ao longo do tempo evolutivo profundo”, explicou Saccheri.
A capacidade das traças de se adaptarem ao seu ambiente através de diferentes padrões de cores permite-lhes camuflarem-se contra possíveis predadores. Como os padrões ambientais reduziram a poluição em muitas partes do mundo, as traças estão agora a criar uma cor mais escura para se adaptar melhor às mudanças no ambiente.