O presidente do comité organizador das Olimpíadas de Tóquio, Yoshiro Mori, vai deixar o cargo após uma semana de críticas devido a comentários sexistas, com os especialistas a defenderem que esta dificilmente será uma vitória para os direitos das mulheres no Japão.
De acordo com os especialistas, a renúncia – que será formalmente anunciada na sexta-feira – não teria acontecido se não fosse pela atenção internacional sobre o caso, noticiou esta quinta-feira a Time.
A 03 de fevereiro, Mori, de 83 anos, disse num encontro do comité olímpico que as mulheres falam demais nas reuniões. “Se aumentarmos o número de mulheres no conselho, temos que garantir que o tempo de uso da palavra seja um pouco restrito, elas têm dificuldade em terminar, o que é irritante”, referiu.
Mori, que foi primeiro-ministro de 2000 a 2001, desculpou-se no dia seguinte, afirmando, contudo, que não tencionava renunciar.
“Já houve muitos comentários desse tipo por parte políticos e pessoas tantas vezes antes, mas nunca renunciaram”, disse Kazuko Fukuda, que iniciou uma petição pedindo uma ação contra Mori, na qual classifica os seus comentários como “preconceituosos, tacanhos e discriminatórios”. A iniciativa já conta com quase 150 mil assinaturas.
No início da polémica, o Comité Olímpico Internacional (COI) aceitou as desculpas de Mori, emitindo depois um comunicado onde declarava que os comentários eram “absolutamente inadequados”. A 10 de fevereiro, a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, disse que faltaria a uma reunião com Mori e com o presidente do COI, Thomas Bach, na semana seguinte.
A tenista Naomi Osaka, que nasceu no Japão, considerou os comentários de Mori “muito desinformados” e “ignorantes”. Cerca de 500 voluntários olímpicos desistiram, segundo a media japonesa.
“Se Mori não tivesse tanta visibilidade na representação do Japão no cenário internacional, é provável que houvesse muito mais complacência em relação aos seus comentários”, indicou Grace En-Yi Ting, professora da Universidade de Hong Kong.
Durante a sua governação, o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe pediu às empresas que atribuíssem às mulheres 30% dos cargos gestão até 2020. Quando essa meta não foi cumprida, a data foi adiada. As mulheres ocupam menos de 15% dos cargos de gestão média e sénior – uma das piores taxas no grupo das 20 grandes economias.
Abe indicou apenas uma mulher para seu gabinete, e o atual primeiro-ministro, Yoshihide Suga, escolheu somente duas, num contexto de 21 funcionários.
Grace En-Yi Ting hesita em dizer que a renúncia de Mori possa despertar um senso significativo sobre a igualdade de género no Japão. “Este é um problema de sexismo sistémico; Mori e outros são sustentados por um ambiente que tolera o sexismo”, siublinhou a professora.
Espera-se que o substituto de Mori seja Saburo Kawabuchi, o ex-presidente da Federação Japonesa de Futebol, de 84 anos.