Terá Cristóvão Colombo trazido a sífilis para a Europa?

Wikimedia

Retrato póstumo de Cristóvão Colombo, por Sebastiano del Piombo (1519)

Durante séculos, Cristóvão Colombo foi acusado de ter trazido a sífilis para a Europa, mas novas provas de ADN sugerem que esta doença sexualmente transmissível podia já existir no continente. A nova teoria sugere que ambas as histórias podem ser verdadeiras.

No final do século XV, uma epidemia devastadora varreu a Europa, causando febres altas, dores nas articulações, erupções cutâneas, úlceras e desfiguração, com consequências fatais para muitos. A propagação da doença coincidiu com a agitação política, passando de França para Itália, Suíça, Alemanha, Ilhas Britânicas, Escandinávia e Rússia. As pessoas atribuíram-na a um castigo divino e chamaram-lhe “veneno bárbaro”.

Há muito que se pensa que Cristóvão Colombo e os seus marinheiros introduziram a sífilis na Europa, mas novas investigações põem em causa esta ideia. Há cerca de duas décadas que os paleopatologistas estudam os cemitérios europeus e encontraram sinais de infeção por sífilis em ossos e dentes medievais, o que sugere que a doença já estava presente na Europa antes das viagens de Colombo.

Agora, uma equipa de investigadores utilizou a análise de ADN antigo para fornecer provas convincentes da presença da bactéria Treponema, associada à sífilis, num esqueleto enterrado na Provença entre os séculos VII e VIII. Esta descoberta é a mais forte indicação até à data de que a sífilis, ou uma doença relacionada, infetou os europeus séculos antes da época de Colombo, escreve a Wired.

De acordo com Michel Drancourt, o autor principal do novo estudo publicado em setembro na revista The Journal of Infectious Diseases, esta descoberta é a primeira prova concreta que apoia a hipótese de que a sífilis existia na Europa antes das viagens de Colombo. Desafia a crença de longa data de que Colombo e os seus marinheiros introduziram a doença na Europa.

Embora esta descoberta acrescente complexidade à compreensão da história da sífilis, não absolve totalmente Colombo. O registo histórico continua a descrever uma epidemia devastadora de sífilis que coincidiu com o seu regresso à Europa. Além disso, existiam outras doenças causadas pela bactéria Treponema, como a bouba, que afetava principalmente as crianças e podia ser transmitida através do contacto com a pele e não através do contacto sexual.

A narrativa inicial da chegada da sífilis à Europa também serviu os objetivos coloniais da Era dos Descobrimentos ao retratar os indígenas americanos como “selvagens”, reforçando os estereótipos que os europeus usaram para justificar a sua conquista.

O impacto da sífilis na Europa, desde o Renascimento até ao início da era industrial, foi dramático, com uma parte substancial da população a procurar tratamento para as infeções de sífilis. Esta evidência de uma epidemia europeia muito antes de Colombo levanta questões sobre as verdadeiras origens da doença e as suas possíveis variantes.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.