Monica Davey / EPA

O CEO da Apple, Tim Cook, durante a apresentação de novos produtos Apple
Donald Trump isentou smartphones, computadores e outros produtos eletrónicos das “tarifas recíprocas globais”, após uma semana tumultuosa nos mercados devido à sua guerra comercial global. Mas se importados da China, este produtos continuam sujeitos a uma tarifa de 20%.
De acordo com um boletim publicado este sábado pelo Serviço de Imigração e Alfândegas, a administração Trump isentou um conjunto de produtos eletrónicos de consumo, muitos deles fabricados na China, da escalada nas tarifas aduaneiras recentemente lançada pelo presidente norte-americano.
As isenções são aplicáveis a telemóveis, computadores portáteis, discos rígidos, microprocessadores e ‘chips’ de memória, bem como as máquinas utilizadas para fabricar semicondutores.
A medida pode ser uma vitória para empresas de tecnologia como a Apple e a Samsung, que estavam a enfrentar potenciais aumentos de preços, e deverá aliviar o impacto dos direitos aduaneiros nos consumidores.
No entanto, segundo o Politico, embora estes produtos não estejam sujeitos às elevadas tarifas que Trump impôs na semana passada, poderão ainda ser sujeitos a uma taxa significativa se forem fabricados na China.
Numa publicação no X, o conselheiro sénior da Casa Branca Stephen Miller aconselha os jornalistas do Washington post a “ler antes de publicar” e clarifica que estes produtos ainda estão “sujeitos à tarifa de 20% definida na ordem executiva original sobre a China”.
Donald Trump deu a entender que está ainda a considerar a possibilidade de aplicar tarifas setoriais a alguns bens — incluindo semicondutores, que são vitais para uma série de produtos eletrónicos.
As isenções surgem numa altura em que os gigantes tecnológicos de Silicon Valley se aproximaram de Trump, e podem ser uma saída airosa (se tal é possível) para a administração depois de a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, ter dito no início da semana que as empresas como a Apple deveriam instalar as suas fábricas nos EUA — um processo que pode levar anos.
“Temos a mão de obra, a força de trabalho e os recursos para fazer isso”, disse Leavitt na terça-feira. “O presidente Trump deixou claro que a América não pode depender da China para fabricar tecnologias críticas, como semicondutores, chips, smartphones e laptops”.
“O presidente garantiu biliões de dólares em investimentos nos EUA das maiores empresas de tecnologia do mundo, incluindo Apple, TSMC e Nvidia. Sob a direção do presidente, estas empresas estão a esforçar-se por instalar a sua produção nos Estados Unidos o mais rapidamente possível”, acrescentou.
O potencial impacto das tarifas nos preços sentidos pelos consumidores gerou enorme controvérsia ao longo da semana — incluindo entre alguns dos mais fervorosos apoiantes de Trump, como é o caso dos CEOs da Tesla, Elon Musk, e da GameStop, Ryan Cohen.
Numa publicação no X, Cohen criticou as tarifas, dizendo que mal podia esperar pelo seu “iPhone de 10.000 dólares fabricado nos EUA”, e Musk pediu a Trump que revertesse a política — pedido que terá gerado um desentendimento entre o presidente dos EUA e o empresário.
O anúncio da guerra comercial global de Trump no seu “Dia da Libertação“, a 2 de abril, provocou ondas de choque em todo o mundo. Vários países, da China ao Canadá, responderam imediatamente com tarifas de retaliação.
Na sequência da escalada tarifária, os mercados bolsistas, em particular no setor tecnológico, caíram a pique. O valor de mercado da Apple caiu 640 mil milhões de dólares na última semana. Vários países apressaram-se a encetar conversações com a administração e, potencialmente, a atenuar o impacto dos direitos aduaneiros.
Na quarta-feira, Trump anunciou uma suspensão de 90 dias nas “tarifas recíprocas” impostas sobre o resto do mundo, mas agravou as taxas impostas à China, que atingiram então os 145%.
Trump tinha comentado antes que alguns setores podem ser mais atingidos pelas tarifas do que outros — e que estaria disposto a alguma “flexibilidade”.
“Algumas empresas, sem culpa própria, estão numa indústria que é mais afetada por estas coisas do que outras”, disse Trump na quarta-feira. “É preciso ser capaz de mostrar um pouco de flexibilidade, e eu sou capaz de o fazer”.
Caso a administração Trump imponha taxas sectoriais sobre tecnologias como os semicondutores, serão provavelmente inferiores à atual taxa aplicada à China, diz o Politico.
A isenção de tarifas a alguns setores não caiu bem a todos — que criticam o governo por reverter as tarifas apenas em benefício das gigantes tecnológicas, e apontam para as doações avultadas que os milionários do setor, como o CEO da Apple, Tim Cook, ofereceram a Donald Trump na inauguração da sua presidência.
“Assim, enquanto as famílias trabalhadoras pagam mais, a Apple recebe tratamento especial”, escreveu no X o congressista democrata Greg Casar.
Também o senador Chris Murphy criticou as tarifas diferenciadas como parte de “um regime para recompensar grandes empresas como a Apple, que podem oferecer doações gigantescas a Trump“.
“Eu disse-vos que as empresas e indústrias iriam ajoelhar-se perante Trump para pedir alívio e isenções. E é claro que Trump vai pedir lealdade em troca”, escreveu Murphy no X.
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