Portugal registou mais de 105 casos de hepatite A desde janeiro, quase todos sinalizados em Lisboa, o que fez aumentar a procura de vacinas contra a doença. Os grossistas dizem não ter vacinas desde dezembro, mas o Infarmed não tem qualquer indicação de ruturas de stock.
“A forma de garantir a prevenção é com a vacinação, mas em Portugal as vacinas para a hepatite A estão esgotadas. Há um problema de disponibilidade da vacina e informamos o Infarmed da situação”, disse ao Diário de Notícias o diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), Ricardo Fernandes.
“É preciso conter o surto e a melhor forma é a vacinação e dar informação às pessoas sobre os riscos e como se protegerem”, adiantou.
Fonte do setor grossista adiantou ao jornal que desde dezembro que não recebem uma das vacinas e a outra também esgotou.
No entanto, o Infarmed destacou que “não há nenhuma rutura identificada“, e que o que está a ser feito pelos fabricantes é uma gestão a nível mundial para evitar uma corrida às farmácias.
“A gestão nem é nacional, é a nível mundial, para evitar precisamente uma corrida às farmácias. Devem ser os médicos a prescrever a vacina a quem precisa e as farmácias, depois, entram em contacto com os fabricantes”, explicou fonte da Autoridade Nacional do Medicamento.
Na passada quarta-feira, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, afirmou que há registo de um caso de hepatite A em Coimbra, revelando que se tratou de uma “deslocação” e não de uma “propagação” da infeção.
O responsável garantiu que, apesar do surto, não há necessidade de a população entrar em pânico e que as vacinas estão a ser recomendadas aos “familiares e elementos das relações íntimas dos pacientes”, sendo que deve ser evitada uma “corrida às farmácias”, porque as vacinas precisam de prescrição médica.
“É preciso evitar alarmismos. O pior que se pode fazer é dizer que não há vacinas. Há para quem nós precisamos de proteger”, sublinhou.
A vacina não faz parte do Programa Nacional de Vacinação e não está disponível nos centros de saúde e nos hospitais. Custa cerca de 25 euros, tem 37% de comparticipação e implica a administração de duas doses.
O principal modo de transmissão da hepatite A é por via fecal-oral, através da ingestão de alimentos contaminados ou por contacto pessoal, que inclui relações sexuais.
De acordo com a Direcção Geral da Saúde, no ano passado na Europa começou-se a assistir a uma atividade anormal desta doença, que parece ter tido origem na Holanda e espalhou-se depois para outros países”.
“O Reino Unido foi o primeiro a reportar um aumento do número de casos e, atualmente, são cerca de 13 países que reportam este aumento, incluindo Portugal. Para lhe dar uma noção da grandeza, no ano passado tínhamos nesta altura seis casos reportados e agora temos uma centena”, explicou a diretora do programa nacional para as hepatites virais da DGS, Isabel Aldir.
A doença pode afetar qualquer indivíduo, com qualquer orientação sexual, mas o que tem sido até à data mais descrito é um predomínio de casos em homens homossexuais.