Supremo Tribunal dos EUA toma “mais uma decisão devastadora para a humanidade”

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Phil Roeder / Flickr

Sala do Supremo Tribunal dos Estados Unidos

A decisão da EPA significa que pode agora ser impossível, através das vias disponíveis, os EUA alcançarem o seu objetivo de emissões de gases com efeito de estufa.

A maior parte dos juízes conservadores do Supremo Tribunal dos Estados Unidos reverteu a decisão Roe v. Wade, que vigorava desde 1973 e garantia o direito federal ao aborto durante os dois primeiros trimestres da gravidez.

Segundo Peter Kalmus, jornalista do The Guardian, esta decisão vai resultar em incontáveis mortes, especialmente entre as mulheres vulneráveis, e atrasou as liberdades civis nos Estados Unidos em meio século. Agora, o tribunal tomou mais uma “decisão devastadora para a humanidade“.

O Supremo Tribunal dos EUA decidiu a favor de uma ação judicial dos Estados produtores de combustíveis fósseis contra a Agência de Proteção Ambiental (EPA).

A decisão retira poder às agências reguladoras e “faz avançar o objetivo republicano de acabar com a supervisão governamental”, realça Kalmus.

Em particular, elimina uma das únicas vias de ação federal sistémica em matéria de clima: a utilização da Lei do Ar Limpo para eliminar progressivamente as centrais elctricas alimentadas a combustíveis fósseis.

Como resultado, “pode agora ser matematicamente impossível, através das vias disponíveis, que os EUA atinjam o seu objetivo de reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa até 2030″, algo que é preocupante, à luz dos recentes desastres climáticos, sublinha o jornalista.

Numa era de crises, as alterações climáticas destacam-se cada vez mais como uma das maiores emergências que a humanidade enfrenta.

As mudanças no clima estão a provocar calor extremo, secas e cheias nos em todo o mundo. Estão a causar incêndios florestais e o colapso dos ecossistemas, e podem até já estar a “contribuir para a fome e a guerra”, admite Kalmus.

O consenso científico é que as emissões globais de dióxido de carbono devem atingir o seu pico agora (ou seja, entre 2020 e 2025), e nenhuma nova infraestrutura de combustíveis fósseis pode ser construída, se quisermos preservar uma hipótese de dois terços de manter o aquecimento global médio abaixo de 2ºC.

“O nosso nível atual de aquecimento global de 1,3ºC já é obviamente inseguro; 1,5ºC, valor que estamos perto de atingir no início da década de 2030, seria catastrófico; e 2ºC, que estamos no caminho certo para atingir em meados do século, pode tornar a civilização global, tal como a conhecemos, inexistente“, alerta o jornalista.

Mais de um quarto dos membros do Congresso continuam a ser negacionistas do clima. Estes 139 membros republicanos (mais de metade do total republicano) aceitaram até agora 61 milhões de dólares em contribuições diretas da indústria dos combustíveis fósseis, não incluindo o apoio “indireto”.

Muitos outros membros do Congresso também aceitam dinheiro de combustíveis fósseis, incluindo os Democratas, insiste Kalmus.

Joe Biden, o Presidente dos EUA, colocou a expansão dos combustíveis fósseis e a redução dos preços do gás no topo da sua agenda, sendo que mal mencionou o clima no seu primeiro discurso sobre o Estado da União.

A nível internacional, há reuniões anuais “que nos falharam durante 26 anos, talvez por terem sido comprometidas pela indústria dos combustíveis fósseis”, acrescenta.

“Conflito de interesses, suborno, seja qual for o nome que se escolha, equivale a que os já ricos enriqueçam ainda mais com custos para a humanidade e para o resto da vida na Terra, e estende-se até aos próprios juízes”, lamenta Kalmus.

Segundo o jornalista, o bilionário Charles Koch, que dirige a maior empresa privada de combustíveis fósseis do mundo, impulsionou diretamente a decisão do tribunal.

“Rupert Murdoch passou décadas a criar um império mundial de media de negação do clima que inclui a Fox News”, acrescenta.

“E os executivos dos combustíveis fósseis têm conspirado durante décadas para evitar a ação climática com pleno conhecimento das consequências”, conclui.

Alice Carqueja, ZAP //

9 Comments

  1. Europa está com as usinas a carvão ligadas e ninguém viu isso, Alemanha, França todas usando carvão e vem falar da América, o repórter já viu isso

    • Quando não queremos ser contra os erros de uns, argumentamos com os erros dos outros – modo hipócrita de encarar certas questões.
      No caso presente, o que está em causa é os USA andarem para trás, coisa que não estranho, pois essa tropa não merece crédito, sobretudo em matérias de importância tão crucial como a das alterações climáticas..

    • Usinas??
      Todas quem?
      A França não tem centrais de carvão!

      A noticia é do The Guardian e é sobre os EUA – que é dos países que usa mais carvão – não é sobre a Alemanha ou a França!

  2. A USSC não teve nenhuma decisão contra o meio ambiente. Estão todos a tocar o trombone de esquerda. A decisão foi pura e simplesmente que o governo não pode decidir por decreto, assuntos, que de acordo com a constituição, têm de ser decididos por legislação do Congresso.
    Leiam as leis antes de regurgitar material da CNN.

  3. EUA: A morte anunciada de uma Democracia, há muito, doente.

    Hoje, mais do que nunca, a Europa deve procurar a autossuficiência e distanciar-se de democracias doentes e ditaduras crónicas.

    • Concordo em absoluto. E não se trata só de embriões mas de crianças já quase formadas. Mas isso não é devastador. Não conta.

  4. Devastador é colocar crianças no mundo sem a preocupação de lhes garantir acesso à habitação digna, igualdade na educação e na saúde e famílias com estrutura para as receberem. Não cumprir estes princípios é que é crime!
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