Super-vulcões como o Yellowstone, nos Estados Unidos, podem entrar em erupção sem terramotos ou outros factores externos, indica um estudo realizado por especialistas suíços, publicado na revista Nature Geoscience.
O imenso volume de magma seria suficiente para causar uma super-erupção catastrófica, de acordo com uma experiência realizada no Laboratório Europeu de Radioatividade de Sincrotron (ESRF, na sigla em inglês), com sede em Grenoble, na França.
Poder simular o calor e pressão intensos desses “gigantes adormecidos” poderia ajudar a prever um desastre futuro, segundo os cientistas, indica a BBC.
“Nós sabíamos que o tempo estava a passar, mas não sabíamos o quão rápido: o que seria preciso para desencadear uma erupção?”, indaga Wim Malfait, pesquisador-chefe da ETH, uma universidade de tecnologia e ciências naturais, em Zurique.
“Agora sabemos que não precisamos de nenhum factor extra. Um super-vulcão pode entrar em erupção simplesmente devido ao seu enorme tamanho”, acrescentou.
“Uma vez que a lava está derretida o suficiente, a erupção pode começar num estalar de dedos.”
Efeitos devastadores
Há cerca de 20 super-vulcões na Terra, entre os quais o Lake Toba, na Indonésia e Lake Taupo, na Nova Zelândia.
Super-erupções ocorrem raramente, geralmente uma vez em cada cem mil anos. Mas quando ocorrem, o efeito é devastador para o clima e para a ecologia do planeta.
Quando um super-vulcão entrou em erupção há 600 mil anos no Estado de Wyoming, onde fica hoje o Parque Nacional de Yellowstone, expeliu mais de mil quilómetros cúbicos de cinzas e lava na atmosfera – o suficiente para enterrar uma cidade grande a alguns quilómetros de profundidade.
“É possível comparar a erupção ao impacto de um asteróide. O risco de que possa acontecer a qualquer momento é pequeno, mas quando acontece as consequências são catastróficas”, afirma Malfait.
Entender o que desencadeia uma mega-erupção continua a ser uma questão difícil de responder.
Um mecanismo possível pode ser o aumento da pressão sobre a câmara magmática gerada pelas diferenças entre a densidade do magma e das rochas que a rodeiam.
“O efeito é similar ao segurar uma bola de futebol debaixo de água. Quando se solta a bola, ela sobe, impulsionada pela densidade da água”, explica o cientista.
Mas ainda não se sabe se só este efeito é suficiente. É possível que um gatilho adicional, como uma injecção repentina de magma, uma infusão de vapor de água ou um terramoto também seja necessário.
Simulação
Para simular a intensa pressão e o calor na caldeira de um super-vulcão, os investigadores visitaram o ESRF em Grenoble, onde usaram uma estação experimental.
Os investigadores preencheram uma cápsula de diamante com magma sintético e a borbardearam com raios-X para aumentar a pressão e avaliar as mudanças causadas no seu interior.
“Quando medimos a diferença de densidade entre os magmas líquido e sólido, pudemos calcular a pressão necessária para provocar uma erupção espontânea”, disse Mohamed Mezouar, cientista da ESRF.
“Recriar as condições na crosta terrestre não é tarefa fácil, mas com os meios correctos é possível manter o magma líquido estável em até 1,7 milºC.”
A experiência mostrou que a transição de magma sólido para líquido cria uma pressão que pode provocar rachaduras em mais de dez quilómetros da crosta terrestre acima da câmara do vulcão.
“A penetração do magma nas rachaduras eventualmente chegam à superfície terrestre. E à medida que sobe, expande violentamente, causando uma explosão,” explicar Carmen Sanchez-Valle, da ETH .
A boa notícia é que se um vulcão como o Yellowstone estiver à beira da erupção, emitirá um alerta, tranquilizou Malfait.
“O solo provavelmente seria elevado em centenas de metros”, afirmou, acrescentando que os cientistas acreditam que o vulcão actualmente tem entre 10 e 30% de magma parcialmente derretido.
“Para que a pressão fosse suficiente para causar uma erupção, seria necessário que esse índice fosse de 50%.”
ZAP // BBC