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Subida do salário mínimo em xeque. Esquerda pressiona, patrões não querem ouvir falar do assunto

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Mário Cruz / Lusa

O semanário Expresso escreve na sua edição deste sábado que a pandemia pode comprometer a subida do Salário Mínimo Nacional (SMN) prevista anteriormente, observando que enquanto a Esquerda puxa pela subida, as entidades patronais dizem não haver condições, não querendo discutir o assunto.

O aumento do SMN programado pelo Governo previa que este valor atingisse os 670 euros em 2021 e os 750 euros dois anos depois, em 2023.

No discurso de tomada de posse, em outubro de 2019, o primeiro-ministro, António Costa, destacou a necessidade de se valorizar o SMN. “O salário mínimo nacional evoluirá em cada ano, [mas o Governo tem] o objetivo de atingir os 750 euros em 2023”.

O primeiro-ministro sublinhou, contudo, que a “dinâmica do emprego e do crescimento económico” seriam fatores importantes para determinar as subidas.

Esta tendência, escreve o Expresso este sábado, está ameaçada pela pandemia de covid-19, que veio abalar fortemente a economia portuguesa.

Apesar da situação que vivemos, a Esquerda não desiste da luta: BE, PCP e PAN querem ver o assunto, que normalmente é debatido no fim de cada ano civil, a ser discutido nas negociações que serão levadas a cabo ainda este mês.

Bloquistas e comunistas defendem que o aumento deve continuar, apesar da crise.

“É o básico”, disse Jorge Costa, deputado Bloco de Esquerda, ao mesmo jornal, recordando que este foi um compromisso assumido pelo primeiro-ministro.

“O aumento do salário mínimo é uma das explicações mais relevantes para o crescimento e criação de emprego”, disse o bloquista, notando que, apesar da crise, as “empresas estão mais apoiadas”, acrescentando: “O problema da nossa economia é a fraca procura interna e a vulnerabilidade do trabalho. Se respondemos comprimindo ainda mais o salário, não estamos a resolver problema nenhum”.

No PCP, o discurso é semelhante: “É conhecida a exigência do PCP de valorização geral dos salários e do SMN, que, como é público, deveria ter sido fixado em €850 em 2020”.

Também o PAN, pela voz da deputada Bebiana Cunha, rejeita a austeridade e pede ao Governo que não deixe de olhar “para o objetivo de longo prazo”. A deputada diz que as questões laborais serão “incontornáveis” nas conversas com o Governo.

“Nem quero ouvir falar nisso”

Já os patrões, posicionam-se do outro lado da barricada, dizendo que a atual situação económica não permite concretizar os aumentos do SMN programados anteriormente.

Ao Expresso, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, um dos setores mais afetados pela pandemia, foi perentório: “Nem quero ouvir falar nisso“.

Também António Saraiva, líder da Confederação da Indústria, diz que o assunto não foi abordado e que não sabe se se colocará face à crise que vivemos.

“Não foi uma questão que se tenha levantado (…) Com a crise que vamos viver, não sei se o tema se irá colocar”, acrescenta Saraiva, sublinhando que “importa atender à realidade duríssima que estamos a viver” e olhar para os números “preocupantes” do aumento do desemprego, da queda do PIB e do encerramento de empresas.

Até os próprios sindicados parecem não insistir em abordar o assunto.

A CGTP reclama por “um aumento generalizado dos salá­rios”, mas espera pela rentrée para divulgar o seu plano de “caderno reivindicativo”. Da parte da UGT, é Sérgio Monte quem assume que “não é o momento” para a questão.

No Executivo socialista, o assunto ainda não foi debatido. “Ainda é cedo”, de acordo com o Governo. Contudo, caberá a António Costa decidir se se posiciona ao lado dos patrões, deixando cair os aumentos programados, ou da Esquerda, com quem quer um acordo saudável e duradouro para a legislatura.

ZAP //

 

13 Comments

  1. Pois, a situação atual não está nada favorável a, aventuras, muitas empresas em Setembro certamente já não abrirão portas.

  2. Empresas que só subsistem porque pagam salários de miséria então mais vale que fechem. Os níveis salariais em Portugal são uma anedota e, ao contrário do que muitos pensam, aumentar salários estimula a economia.

      • Deduzo que tenha uma das tais empresas que só existe à custa de salários de miséria. O seu sonho certamente seria poder até nem pagar nada e ter escravos. Empresários da mula ruça como você fazem tanta falta como a fome… Feche as portas e dê lugar a quem faça mais e melhor, o que certamente não será difícil…

      • Não tenho, nem nunca tive, uma empresa, mas sei muitíssimo melhor que você as dificuldades que a grande maioria das empresas em Portugal enfrenta, às quais assisti de muito perto.

        Desde pesadíssimas leis laborais, que tornam difícil o despedimento e por consequência tornam difícil a contratação, a uma pesadíssima carga fiscal, que torna o verdadeiro custo de um funcionário muito alto, passando por demasiada regulamentação na forma de taxas e taxinhas para tudo, é fácil de perceber porque é que em Portugal há uma pobreza de empreendedorismo, o que explica em parte porque é que Portugal continua a estar na cauda da Europa, e porque é que cada vez mais é ultrapassado por mais países.

        Como não vivo no mundo da fantasia, sei também que só é possível dar aumentos quando os mesmos são acompanhados por um aumento da receita. Como uma empresa não é o Estado, não pode aumentar a receita por via do aumento de impostos, coisa em que aliás sucessivos Governos em Portugal têm sido peritos, contribuindo para um dos problemas referidos acima. A única forma de aumentar a receita é aumentando as vendas, o que tem que acontecer ANTES de um aumento aos funcionários, não depois como você erradamente sugere. Aumentar as vendas é difícil num país como Portugal, com baixa iniciativa privada, ou seja, o problema alimenta-se a si mesmo – empresas com fraca capacidade financeira não só não pagam salários altos como não serão bons clientes de outras empresas.

        Reduzir lucros para dar aumentos aos funcionários é uma péssima ideia, e uma excelente maneira de afundar uma empresa. Lucros é o que permite a uma empresa evoluir, diversificar, expandir-se para outros mercados, ou seja, crescer, e contratar MAIS funcionários. É também o que permite a uma empresa sobreviver a crises como a que actualmente vivemos.

        Reduzir lucros é também uma boa forma de enviar um sinal ao mercado que é preferível que os investidores apliquem o seu dinheiro em outro lado. Para crescerem, as empresas precisam de financiamento, e quanto mais lucrativa uma empresa mais fácil é obter fontes de financiamento. Ou seja, reduzir lucros é reduzir a capacidade de expansão de uma empresa e consequentemente reduzir o emprego.

      • Tem toda a razão e, acima de tudo, tem os pés na terra.
        Pena que outros vivam no mundo da fantasia e dêem patadas a quem lhes mostra a realidade.

      • Meu caro, isso seria tudo muito bonito e louvável se não houvesse esse tal pressuposto de base do qual não parece abdicar, de salários de miséria. Assim sendo, é irrelevante tudo o resto, pois as empresas não foram alçadas a entidades superiores, quais semi-deuses, que se apoiam no sacrifício humano para existir e crescer. O fosso da desigualdade na distribuição de rendimentos aumenta persistentemente década após década, ao ponto de hoje em dia um casal de qualificações e rendimentos médios praticamente vive no limiar da pobreza.

      • Lá estamos com a teoria dos “salários de miséria” Estes teóricos da mula ruça acham mais louvável não ganhar nenhum do que ganhar pouco. Aliás, para eles o mundo não se vai construindo. ele aparece maravilhosamente criado da nada graças a ajuda do “Estado” Na sua cabeça é tudo muito lindo, na pratica não percebem nada de como o mundo funciona.

      • Infelizmente salários de miséria não é teoria, é mesmo a prática. Mais um carroceiro que só tem o tasco aberto porque paga os tais salários de miséria, e cuja vontade seria nem pagar nada e ter as pessoas a trabalhar 24 horas por dia. Afinal, segundo este “senhor doutor engenheiro”, os semi-escravos ainda têm que lhe agradecer por ter trabalho, mesmo que ganhem uma esmola… Para rir, se não fosse tão miserável.

    • Isso é fácil de mudar, amigo. Crie a sua empresa e faça o que diz! Pague salários altos, estimule a economia e daqui a dois anos (se é que será necessário tanto) volte aqui para contar as suas aventuras pelo mundo empresarial.

      • E quem lhe disse que já não o fiz? E o que não faltam são exemplos disso, por esse mundo fora. Em Portugal não se vê muito, porque infelizmente em Portugal o típico empresário é um marreta complexado e manipulador que a única relação laboral que concebe é através do poder e da dependência, rodeando-se de trabalhadores pobres e subservientes, que lhe lambem as botas e ainda lhe agradecem por ter trabalho.

  3. Bastava o governo cobrar o mesmo que cobrar em impostos sobre o bruto total que cobra a inglaterra , irlanda , eslovaquia , holanda etc para que os ordenados subissem logo .agora um empregada recebe 700 euros e custa 1323 euros á empresa algo esta errado. Este foi o valor real de um contrado de 6 meses , aonde foram somados todos os custos durante o contrato , e no final dividir por 6. a Maioria do trabalhadores pensa que os descontos são apenas 11% de TSU porque é o que veem na folha de Ordenado. e no caso de um funcionário que ganhe limpos 800 euros e a empresa pense em lhe dar um aumento real de 100 euros , a empresa terá um custo de 253 euros mensais. Resumindo 253 euros para um aumento real de 100 euros.

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