Especialistas relacionam a subida de casos das últimas semanas entre os jovens rapazes com a administração de vacinas da Janssen, de toma única. Testes rápidos e ventilação dos espaços serão determinantes para controlar ressurgimento da pandemia nos meses de inverno.
A subida de casos ao longo das últimas semanas não representa, para já e de acordo com os especialistas, motivo para preocupação, com os hospitais longe de atingirem números de ocupação relevantes. No entanto, um olhar mais atento pelos números permite perceber que o aumento de casos não tem acontecido de forma homogénea entre os vários grupos etários. Por exemplo, os jovens com idades entre os 20 e os 29 anos são os que mais testam positivo, mas entre eles sobressaem sobretudo os rapazes.
De acordo com as contas feitas por Carlos Nunes e Manuel Carmo Gomes, professores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no final de outubro os valores da incidência cumulativa a 14 dias por 100 mil habitantes remetia para 123 casos entre as mulheres com idades entre os 20 e os 29 anos, ao passo que nos rapazes na mesma baixa etária a incidência era de 196 casos.
Ao semanário Expresso, os especialistas explicaram que “desde o início de outubro que a faixa etária dos 20 aos 29 anos se destaca em termos de incidência. Isto deve-se ao levantar de mais restrições, como a reabertura de bares e discotecas, e também ao início do ano académico.” Carlos Nunes e Manuel Carmo Gomes olharam também para “o que se passa no grupo 18-25 anos, onde se integra a população universitária, e os números são agora de 210 casos por 100 mil habitantes nos rapazes e de 110 entre as raparigas”.
De acordo com os especialistas, esta diferença não se registava antes de agosto, por exemplo. Partindo de princípio que não há uma diferença de comportamentos entre os dois grupos, a explicação pode estar na vacina utilizada — em junho, a Direção Geral da Saúde anunciou que a vacina da Janssen seria administrada a homens com menos de 50 anos.
Como tal, Manuel Carmo Gomes considera existir “evidência de um declínio da proteção dos vacinados com a vacina da Janssn, de dose única“, pelo que “devemos estudar seriamente um reforço para os vacinados com esse fármaco, todos homens”.
O especialista considera que o reforço poderia ocorrer, por exemplo, com as vacinas da Pfizer ou da Moderna, as quais têm origem em tecnologias RNA. “O problema não está no grau de gravidade da infeção, mas numa maior transmissibilidade do vírus. A estratégia para ter a epidemia controlada passa por ter a menor circulação de vírus possível“, esclarece Carlos Antunes.
Os dois especialistas em saúde pública consideram que apesar do aumento do número de casos, que originou uma inversão na tendência de descida dos internamentos, o país está num nível baixo de risco. Este cenário é ainda menos preocupante quando a administração das doses de reforço nos grupos de risco — mais suscetíveis de serem internados face a uma infeção de covid-19 — já começou.
É precisamente à ocupação hospitalar que a população deve estar atenta quando tenta antever a evolução da pandemia, sobretudo nos próximos meses, ou seja, na antecâmara da quadra natalícia. Tal como lembra Manuel Carmo Gomes, “só os hospitais poderão alterar as regras do jogo“. Neste momento, a maioria dos internados são pessoas acima dos 70 anos, as mesmas que estão, nesta fase, a receber as doses de reforço, pelo que a prioridade das autoridades de saúde deverá ser garantir que o processo a um ritmo suficientemente satisfatório para evitar que o país possa confinar novamente.
O mesmo especialista defende que as principais armas que a população dispõe para impedir o ressurgimento da pandemia são a utilização dos testes rápidos como despiste e a ventilação dos espaços fechados.