Os nossos “primos” primatas dormem mais que nós, e as previsões mostram que os humanos deviam dormir, supostamente, cerca de 11 horas por dia. No entanto, este nosso sono mais curto pode ter sido uma vantagem evolutiva.
Os hábitos de sono dos humanos são uma excepção entre os primatas. Por exemplo, os nossos “familiares” mais próximos, os chimpanzés, dormem em média mais três horas do que nós. Já o lémure-rato passa 17 horas por dia a dormir.
O professor de antropologia da Universidade de Toronto, David Samson, debruçou-se sobre este fenómeno e recorreu a análises de previsão para estimar os horários de sono de diferentes primatas.
Tendo em conta as variáveis no tamanho do cérebro, o metabolismo e o grau de predação, a equipa conseguiu prever com precisão quantas horas de sono cada espécie necessita – excepto os humanos.
“Os nossos modelos preveem que os humanos deviam dormir entre 10.5 e 11 horas”, revela Samson, citado pela Discover. No entanto, cada pessoa dorme, em média, cerca de sete horas por noite, menos quatro do que o apontado pela análise.
Além de dormirmos muito menos do que os nossos primos, também passamos uma maior porção em REM (Rapid Eye Movement – Movimento Rápido dos Olhos) – cerca de 22% do nosso sono é passado nesta fase mais profunda, mais do que qualquer outro primata.
Esta discrepância é ainda mais intrigante quando se têm em conta a função cognitiva do sono, que está associado a uma maior inteligência, à criatividade e a uma memória melhor. Ora, nós somos mais inteligentes que os primatas, mas dormimos menos. O que explica esta diferença?
A hipótese de Samsom é de que o nosso sono mais curto mas mais profundo pode ter sido vantajoso para a nossa sobrevivência. Enquanto que há primatas que dormem no cimo de árvores, os homo sapiens dormiam no chão, o que os tornava presas mais fáceis para os predadores. Este sono mais curto mas mais regenerador ajudou a colmatar esta vulnerabilidade.
No entanto, dormir em demasia pode ser perigoso, já que o REM é a fase em que sonhamos, por isso os nossos músculos ficam paralisados para não nos mexermos de acordo com o que está a acontecer no sonho.
A hipótese do sonho social, proposta por Samson, explica que os nossos antepassados reduziam os riscos do sonho profundo ao dormirem em grupo, com uma pessoa acordada e a fazer a guarda.
Com este sono mais eficiente, os humanos podiam também ficar acordados até mais tarde durante a noite a socializar, a cantar e a aprender novas habilidades, o que pode ter sido uma vantagem na evolução dos homo sapiens.
Este “sono social” dos nossos antepassados não é uma ideia nova. Um estudo de 2011 concluiu que as pessoas sozinhas têm um sono mais fragmentado do que aquelas que dormem em conjunto, o que pode ser explicado pela falta de segurança.
As diferenças entre as pessoas que gostam de dormir e acordar mais cedo e as que preferem fazer tudo mais tarde também são um factor, já que a selecção natural pode ter favorecido estas diferenças genéticas para que houvesse sempre pelo menos uma pessoa acordada a qualquer hora.