Há sondagens que não são bem sondagens: são painéis. E os resultados são diferentes

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ZAP // Dall-E-2

Um sistema que favorece os “grandes” e o problema dos inquéritos chamado “não quero responder”. 

As eleições legislativas vão ser mais cedo do que se pensava e os vários cenários para o dia 10 de Março de 2024 passaram a ser assunto diário.

As prováveis coligações, quer à esquerda quer à direita, quer antes das eleições quer depois das eleições, são evocadas constantemente.

Carlos Guimarães Pinto analisou na rádio Observador o sistema eleitoral actual em Portugal. Um “mau” sistema, segundo o deputado da Iniciativa Liberal.

“O que é normal é: os partidos vão a votos, testam o que valem”, começou por dizer o liberal, falando depois sobre as coligações.

“Essa maximização dos votos, dos eleitos, que tem um bocadinho a ver com o método Hondt, é o pior argumento de todos”.

O seu foco, a sua crítica, era o sistema eleitoral em Portugal: “Temos círculos bastantes pequenos, mas depois com um círculo de compensação. Isto é algo que já deveria ter sido mudado há algum tempo”.

“Os partidos grandes mantêm este sistema eleitoral e depois são esses grandes partidos que apelam a grandes coligações; porque o sistema eleitoral que mantiveram ao longo de anos assim o dita”, apontou.

“Acho que isso não faz muito sentido. Se consideram que o sistema eleitoral é errado porque favorece grandes partidos e grandes coligações, então mude-se o sistema eleitoral“, sugere Carlos Guimarães Pinto.

O deputado da IL considera que este  sistema eleitoral “não é proporcional. É injusto e os grandes partidos ainda usam esse sistema para chantagear os pequenos partidos para estes entrarem em coligações”, finalizou.

“Não quero responder”

As sondagens são outra questão frequente no panorama político em Portugal. Agora ainda mais, com eleições antecipadas à vista.

José Manuel Fernandes reforça que se deve “olhar com cuidado e distinguir o trigo do joio” nestes inquéritos.

Também na rádio Observador, o comentador explicou a distinção: “Algumas sondagens não são sondagens. São painéis formados por um grupo de pessoas que já sabiam que iam responder, que já sabiam que lhes iam telefonar”.

Aí, a taxa de recusa baixa porque as pessoas já tinham dito que estavam disponíveis para responder.

“Porque esse é um dos grandes problemas nas sondagens: a maior parte das pessoas não quer responder. Não quer perder tempo”.

Nos painéis “pode haver algum enviesamento” e estes grupos de pessoas, que já sabiam que iam ser contactadas, “ajudam a explicar os números estáveis” de algumas sondagens, “que não apanham bem o que está a acontecer“.

Mas isso não é o que acontece na sondagem mais recente, que aponta (mais uma) para um empate técnico entre PSD e PS (29%-28% respectivamente), com o Chega a passar de 10% para 16% das intenções de voto.

É uma subida muito acentuada do Chega, que teria “mais de metade dos votos de PSD ou PS”.

Seria apenas a segunda vez que, numas eleições legislativas, PS ou PSD ficariam com menos de 30% para PS e PSD. A excepção foi em 1985, graças ao Partido Renovador Democrático (PRD) de Ramalho Eanes: “E o PRD não é comparável com o Chega“.

“É uma situação relativamente nova mas não nos deveríamos surpreender. Pode estar a acontecer o que está a acontecer noutros países: erosão dos grandes partidos“, avisou José Manuel Fernandes.

O quadro político em Portugal é marcado por uma “enorme desilusão” de muitos eleitores. Por isso, não surpreende que “partidos anti-sistema” subam nas próximas eleições.

“Com este nível de votação (16%), não se pode mandar o Chega para o caixote de lixo”.

Por isso, esta sondagem da Universidade Católica “ajuda-nos a abrir os olhos”.

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