Todos os produtos que usamos na internet têm Termos e Condições de Uso e Privacidade, mas, diga-se, quase ninguém os lê tudo antes de confirmar a adesão a um serviço online.
Mas Parker Higgins, activista da Electronic Frontier Foundation, não faz parte deste grupo e, divulgou agora um dado bastante preocupante em relação às Smart TVs da Samsung.
Na sua conta do Twitter, Higgins revela que a política de privacidade da companhia sul-coreana alerta os seus consumidores para não terem conversas sobre temas pessoais em frente aos televisores inteligentes Samsung.
“Por favor, tenha cuidado ao proferir palavras que incluam informações sensíveis ou pessoais, informações que poderão estar entre os dados recolhidos pelo Sistema de Reconhecimento de Voz do seu televisor e transmitidos a terceiros para processamento”, dizem os termos da Samsung.
O cenário, realça Parker Higgins, é muito semelhante ao descrito em 1984, a novela distópica do escritor britânico George Orwell, na qual os cidadãos eram todos vigiados através de televisores gigantes, obrigatórios em todas as casas e que nunca podiam ser desligadas.
https://twitter.com/xor/status/564356757007261696/photo/1
A grande questão é que os Termos, da forma como estavam redigidos, soavam algo sinistros – e deixavam ainda mais dúvidas.
Afinal, que terceiros podem receber os registos de voz dos clientes da Samsung? E por que são feitos registos gravados, quando a única função dos comandos de voz é a activação de uma função do aparelho?
Samsung esclarece e actualiza a Política de Privacidade
Num comunicado divulgado no passado dia 10, a Samsung informa que o reconhecimento de voz funciona com dois microfones.
Um dos microfones está embutido na TV e serve para responder a simples comandos de voz – para mudar de canal ou aumentar o volume, por exemplo – e nenhum dado fica armazenado.
O outro microfone está dentro do controlo remoto do televisor, e “requer interacção com o servidor porque é usado para a pesquisa de conteúdo”, informa a empresa, dando como exemplo a pesquisa de um programa de TV ou de um filme específico.
A companhia esclarece que o parceiro que recebe os dados registados no servidor é, actualmente, a Nuance Communications, responsável por converter os comandos de voz em texto e por oferecer outros recursos aos clientes.
Além disso, a empresa lembra que fica ao critério do utilizador activar ou não o sistema de reconhecimento de voz – o que, convenhamos, não liberta a Samsung da responsabilidade de estar a recolher dados privados sem eventual consciência dos clientes.
Para acabar com as dúvidas, a Samsung actualizou o artigo sobre reconhecimento de voz na sua política de privacidade.
As coisas ficaram mais claras, mas não necessariamente melhores.
Na realidade, a Samsung clarifica agora a identidade dos “terceiros”, mas informa também os clientes de que “pode recolher e gravar comandos de voz e textos associados” para lhes oferecer funções de reconhecimento de voz e “melhorar essas funções”.
Será que o sistema reconhece o som de muito obrigado, mas não?