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“Situação dramática” no Hospital de Leiria e nova demissão em bloco. Milhões do OE não chegam para curar o SNS

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José Sena Goulão / Lusa

A ministra da Saúde, Marta Temido

Depois da demissão em bloco de médicos no Hospital de Setúbal, a equipa da Urgência de Psiquiatria do Porto também bateu com a porta. E no Hospital de Leiria vive-se uma “situação dramática” quando os milhões anunciados para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), através do Orçamento de Estado, são insuficientes para resolver todos os problemas.

O Hospital de Leiria é o mais recente caso flagrante dos problemas que se vivem no SNS com a administração a ter que limitar o acesso às urgências, devido à incapacidade de resposta a tantos doentes.

“É uma situação dramática”, como refere à TSF o presidente da secção regional do centro da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes.

“Aquilo que nos foi reportado pela direcção clínica é que há falta de recursos humanos em várias áreas, nomeadamente na medicina interna e na área generalista”, conta Cortes, frisando que “é uma situação dramática que é um pouco o retrato daquilo que está a acontecer neste momento em muitos hospitais do SNS“.

“Muitas falsas urgências” e “negligência” do Governo

A situação é tão grave que levou o Centro Hospitalar de Leiria (CHL) a limitar o acesso ao Serviço de Urgência entre as 22 horas de terça-feira e as 8 da manhã desta quarta-feira.

O CHL lamenta que esta decisão se deve a “três razões essenciais”, logo a começar pelo facto de aparecerem “muitas falsas urgências”, ou seja, pessoas cujas situações não são tão graves que exijam a ida àquele serviço.

Além disso, a situação tem sido agravada pelo encerramento das Urgências da Área Dedicada para Doentes Respiratórios do Hospital das Caldas da Rainha. Assim, os pacientes que não são atendidos nesse Centro Hospitalar, são encaminhados para o Hospital de Leiria.

A terceira razão apresentada pelo CHL é o facto de, na segunda-feira, “se ter registado o recorde desde 1 de Janeiro deste ano do número de doentes atendidos no Serviço de Urgência”, com um total “de 404 doentes, sem que tenha sido possível, não obstante todos os esforços, alocar reforços médicos necessários para uma resposta compatível”.

Além de apelar aos utentes para que se dirijam às Urgências “apenas em casos mesmo urgentes”, o CHL também nota que as pessoas devem contactar a Linha SNS 24 – 808 24 24 24 e recorrer aos “cuidados de saúde primários, dirigindo-se ao seu centro de saúde para serem assistidos pelo seu médico de família”.

Na análise da OM, esta situação reflecte a má gestão do Governo e do Ministério da Saúde em particular.

“A Ordem dos Médicos pediu aqui medidas de excepção, medidas importantes para se poder proceder à contratação de médicos” para o Hospital de Leira, mas, “infelizmente, o SNS foi inapto, teve aqui uma demonstração de enorme negligência”, refere Carlos Cortes na TSF.

O responsável da OM do centro considera que a situação é “muito preocupante” e “muito grave”, considerando que “não é admissível para um hospital desta dimensão” e notando que “a responsabilidade pesa sobre o Ministério da Saúde, que nada fez”.

Demissão em bloco na Urgência de Psiquiatria do Porto

Entretanto, no Porto, a coordenadora e os responsáveis das equipas da Urgência Metropolitana de Psiquiatria (UMPP) do Porto demitiram-se em bloco, em protesto contra a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte.

Em causa está a ausência de respostas da instituição perante os problemas da unidade, como avança o Jornal de Notícias (JN). Um desses problemas é a limitação nas transferências de doentes para o serviço de internamento da urgência do Hospital de Magalhães Lemos, também no Porto, como destaca o diário.

Uma fonte da ARS Norte garante ao JN que o “Conselho Directivo tem vindo a reunir-se e vai continuar a trabalhar com a coordenadora no sentido de se encontrar uma solução e de ver a possibilidade de se manter no cargo”.

Mais dinheiro para o SNS no OE2022, mas ainda é pouco

O ministro das Finanças, João Leão, anunciou, na apresentação do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), um “investimento” de 11 mil milhões de euros para o SNS, o que constitui um aumento de 6,7% relativamente ao valor atribuído para este ano, conforme as contas do Expresso.

Contudo, ainda assim, fica 1000 milhões de euros aquém do que o SNS precisa, conforme aponta o semanário considerando os números avançados pela Convenção Nacional da Saúde (CNS).

Esta entidade recomendou ao Governo que as verbas para o SNS não deveriam ser inferiores a 12 mil milhões de euros, de modo a poder fazer face a todos os problemas que vivencia.

Nas palavras de Leão, “o SNS continuará a ser prioridade” do Governo, justificando que se revelou “a peça central no combate à pandemia”.

Na conferência de apresentação do OE2022, o ministro reforçou que “a despesa em saúde não é despesa, é um investimento”.

O OE2022 prevê 226 milhões de euros para a construção de cinco novos hospitais em Lisboa Oriental, na Madeira, no Alentejo, próximo do Seixal e perto de Sintra.

Além disso, as despesas na área hospitalar são da ordem dos 251 milhões de euros, 10 milhões dos quais serão aplicados em Setúbal.

O OE2022 ainda tem previstos 88 milhões de euros para a Saúde mental, apontando-se para a criação de 10 novos centros neste âmbito.

O Governo pretende também substituir o recurso a empresas de trabalho temporário pela contratação gradual de profissionais para o SNS. E compromete-se a criar condições para que os concursos de promoção das carreiras especiais do sector da saúde avancem em 2022.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. O SNS está em falência há muito tempo e é insustentável. Não fossem os privados, a Saúde em Portugal seria ainda mais caótica, um completo desastre. E depois de um tratamento experimental em massa no sistema imunitário dos indivíduos, esperemos que a situação não piore consideravelmente com os efeitos de médio/longo prazo.

    • Ou seja………Quem tem posses recorre ao Privado, quem não tem , morre simplesmente, silenciosamente, discretamente, ignorado por o “Sistema” !……A isto chama-se “selecção natural”…… Futuro muito “Humano” que reservamos para as nossas descendências !

  2. Com tudo o que se passa diariamente no SNS e o governo assobiando para o lado, não deixa de me surpreender o silêncio do senhor Presidente da República em relação a este estado de coisas cada vez mais insustentável para quem necessita de recorrer a tais serviços. Dá-nos a sensação de já não haver responsáveis neste país!

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