Yvener Guerrier foi um dos jovens que viu a sua promissora carreira estagnar após o terramoto de 2010 no Haiti. O ex-internacional, agora com 32 anos, já terminou a carreira.
O sismo de 12 de janeiro de 2010, no Haiti, durou 30 segundos, mas afetou cerca de três milhões de pessoas e matou entre 220 mil e 300 mil pessoas. O rasto de destruição foi avassalador e, não só afetou a população e a economia, como também teve um profundo impacto no futebol haitiano.
Quando se deu o terramoto, a liga haitiana foi interrompida durante três meses e, mesmo depois do seu regresso, demorou anos para recuperar do caos em que ficou o país. Tudo isto numa altura em que o Haiti estava a produzir jovens promissores com capacidade para um dia afirmar-se no futebol internacional.
A These Football Times recorda que muitas carreiras de jogadores foram abruptamente terminadas devido a lesões relacionadas com o terramoto. Em muitos casos, o sonho de jogar futebol profissionalmente caiu por terra e os testes de alguns jogadores na Europa foram cancelados.
Esse é o caso de Yvener Guerrier, que era um dos maiores talentos do futebol haitiano. Na altura, com apenas 19 anos, o jogador do Violette AC preparava-se para fazer testes em França, onde esperava ficar a jogar profissionalmente. Embora ainda fosse jovem, o seu nome figurava regularmente na lista dos melhores marcadores da liga.
No dia do sismo, Guerrier estava a treinar com os seus colegas de equipa. Inicialmente, acabaram por não se aperceber da gravidade daquilo que aconteceu e até riram quando caíram ao chão com o abalo. No entanto, quando saíram do estádio e viram edifícios colapsados e pessoas feridas e mortas, perceberam que algo de grave tinha acontecido.
“Muitos dos meus colegas começaram a chorar porque tinham esposas, filhos, irmãos, irmãs em casa”, disse Guerrier. “Não conseguiram comunicar com eles. Eu também pensei na minha família em casa. Eu estava em pânico, não sabia como é que eles estavam, o meu telefone não estava a funcionar”.
Felizmente, todos os seus familiares sobreviveram, mas ao olhar em redor e ver a destruição e o caos deixou-o com uma profunda tristeza.
“As coisas mudaram”, começou por dizer, referindo-se à sua carreira. “Por causa do terramoto, tive que sair do país. O futebol demorou muito a voltar. Eu estava triste. Tinha perdido a liga haitiana”.
Embora fosse internacional pelo seu país, teve de se aventurar numa liga com menor qualidade e foi para a República Dominicana. Seguiram-se passagens pela Martinica, um breve regresso ao Haiti e, por fim, os Estados Unidos.
Guerrier, agora com 32 anos, acabou por nunca conseguir dar o salto para profissional nos EUA e pôs um fim à sua carreira. Entretanto, criou o City Soccer Pro, um programa para crianças que regularmente organiza viagens ao Haiti para os seus atletas.
“Eu ainda podia estar na liga haitiana ou a jogar noutro lugar. Mesmo com a seleção, eu poderia ter jogado mais jogos. O futuro era promissor. Eu acho que teria ido mais longe na minha carreira. Mas tive que deixar o país após o terramoto. A vida é assim, há algumas coisas que não podemos mudar, as coisas aconteceram como elas aconteceram. Só precisamos de lidar”, disse Guerrier.